23 outubro 2005

Leitura Eficaz

"Quem sabe ler, sabe a mais difícil das artes."

Toda a leitura deve ser feita em função do tempo, que é escasso e precioso. Por que deixar perpassar pelos nossos olhos obras ruins, se temos a possibilidade de nos entreter com as boas? A. W. Schlegel diz: "Lede com empenho os antigos, os verdadeiros e autênticos antigos: o que os modernos dizem a seu respeito, não significa muito"; Samuel Rogers recomenda: "Sempre que saia um livro novo, leia um velho"; Schopenhauer enfatiza: "Para ler coisa boa, uma das condições é a de não ler coisa ruim: pois a vida é breve, limitados nosso tempo e nossas forças".

Muitas vezes, por falta de critério, deixamo-nos envolver pelas publicações do tipo best seller. É preciso destacar os objetivos pelos quais o livro foi escrito. Quando um autor procura exclusivamente o lucro, ele pode simplesmente escrever o que o público quer ler e não o que público deveria ler, ou seja, aqueles livros que o conduzam a uma reflexão mais profunda sobre o seu "eu" profundo. Os livros de autoajuda, por exemplo, têm boa tiragem porque retificam o nosso modo de pensar.

A frase de Schopenhauer: "Quando lemos, outra pessoa pensa por nós", explica-nos o alívio que sentimos quando nos pomos a ler. O nosso pensamento se contrai e deixa que outro nos traga uma consolação, uma intuição ou uma inspiração para a solução de nossos problemas. Contudo, convém não nos ocuparmos exclusivamente da leitura, porque poderemos ficar desorientados para a vida prática. Einstein nos diz: "Quem lê demais e usa o cérebro de menos, adquire a preguiça de pensar". Exemplo: durante o dia lemos romance; à noite assistimos às novelas. Será que estamos exercitando o nosso pensamento?

Se "quem sabe ler, sabe a mais perfeita das artes", haveria uma leitura correta? Como exercitá-la? A boa leitura pressupõe o atendimento da necessidade do leitor. Assim, para cada necessidade haverá um tipo de leitura: a leitura para o estudo será diferente da leitura para prestar um exame, da mesma forma que esta será diferente da leitura para recreação. Em termos gerais, porém, a leitura correta é aquela que nos faz pensar sobre o que foi lido, no sentido de nos forçar a construir aquele tipo de conhecimento dentro de nós mesmos.

Uma leitura, para ser eficaz, deve ser ruminada, ponderada, considerada. Se, em toda a leitura séria, pudéssemos colocar o assunto com nossas palavras, fazer um resumo de acordo com o nosso modo de sentir, então teríamos feito daquele livro, daquele autor um estimulador do nosso progresso moral e intelectual. Lembremo-nos da frase de Briesen: "Muita gente que leu muitos livros se vangloria da sua força espiritual, mas trata-se apenas de corpulência espiritual". Quer dizer, a leitura não foi acrescentada ao sentimento.

Tenhamos em mente o valor do tempo. Saibamos escolher leituras que realmente concorram para a nossa formação intelectual e moral. A vida é muito curta para os pensamentos mesquinhos.

Fonte de Consulta

SCHOPENHAUER, A. Sobre o Ofício do Escritor. Apresentação e notas de Franco Volpi. Tradução de Luiz Sérgio Repa (alemão) e Eduardo Brandão (italiano). Revisão de tradução de Karina Jannini. São Paulo: Martins Fontes, 2003 (Coleção breves encontros).

 

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