"Quem sabe ler, sabe a mais difícil das
artes."
Toda a leitura deve ser feita em função do tempo,
que é escasso e precioso. Por que deixar perpassar pelos nossos olhos obras
ruins, se temos a possibilidade de nos entreter com as boas? A. W. Schlegel
diz: "Lede com empenho os antigos, os verdadeiros e autênticos antigos: o
que os modernos dizem a seu respeito, não significa muito"; Samuel Rogers
recomenda: "Sempre que saia um livro novo, leia um velho";
Schopenhauer enfatiza: "Para ler coisa boa, uma das condições é a de não
ler coisa ruim: pois a vida é breve, limitados nosso tempo e nossas
forças".
Muitas vezes, por falta de critério, deixamo-nos
envolver pelas publicações do tipo best seller. É preciso destacar
os objetivos pelos quais o livro foi escrito. Quando um autor procura
exclusivamente o lucro, ele pode simplesmente escrever o que o público quer ler
e não o que público deveria ler, ou seja, aqueles livros que o conduzam a uma
reflexão mais profunda sobre o seu "eu" profundo. Os livros de autoajuda,
por exemplo, têm boa tiragem porque retificam o nosso modo de pensar.
A frase de Schopenhauer: "Quando lemos, outra
pessoa pensa por nós", explica-nos o alívio que sentimos quando nos pomos
a ler. O nosso pensamento se contrai e deixa que outro nos traga uma
consolação, uma intuição ou uma inspiração para a solução de nossos problemas.
Contudo, convém não nos ocuparmos exclusivamente da leitura, porque poderemos
ficar desorientados para a vida prática. Einstein nos diz: "Quem lê demais
e usa o cérebro de menos, adquire a preguiça de pensar". Exemplo: durante
o dia lemos romance; à noite assistimos às novelas. Será que estamos
exercitando o nosso pensamento?
Se "quem sabe ler, sabe a mais perfeita das
artes", haveria uma leitura correta? Como exercitá-la? A boa leitura
pressupõe o atendimento da necessidade do leitor. Assim, para cada necessidade
haverá um tipo de leitura: a leitura para o estudo será diferente da leitura
para prestar um exame, da mesma forma que esta será diferente da leitura para
recreação. Em termos gerais, porém, a leitura correta é aquela que nos faz
pensar sobre o que foi lido, no sentido de nos forçar a construir aquele tipo
de conhecimento dentro de nós mesmos.
Uma leitura, para ser eficaz, deve ser ruminada,
ponderada, considerada. Se, em toda a leitura séria, pudéssemos colocar o
assunto com nossas palavras, fazer um resumo de acordo com o nosso modo de
sentir, então teríamos feito daquele livro, daquele autor um estimulador do
nosso progresso moral e intelectual. Lembremo-nos da frase de Briesen:
"Muita gente que leu muitos livros se vangloria da sua força espiritual,
mas trata-se apenas de corpulência espiritual". Quer dizer, a leitura não
foi acrescentada ao sentimento.
Tenhamos em mente o valor do tempo. Saibamos
escolher leituras que realmente concorram para a nossa formação intelectual e
moral. A vida é muito curta para os pensamentos mesquinhos.
Fonte de Consulta
SCHOPENHAUER, A. Sobre o Ofício do Escritor.
Apresentação e notas de Franco Volpi. Tradução de Luiz Sérgio Repa (alemão) e
Eduardo Brandão (italiano). Revisão de tradução de Karina Jannini. São Paulo:
Martins Fontes, 2003 (Coleção breves encontros).
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