06 novembro 2005

Eloquência

Eloquência é uma palavra que perdeu o seu sentido original. Muitos falam dela de modo pejorativo. Há, porém, boas razões para vê-la dentro de um contexto mais amplo, em que se privilegiam o convencimento e a persuasão daqueles que falam em público. Isto porque, todo o orador, quando fala, quer ser ouvido. Caso contrário, para que falar em público?

Na antiguidade clássica grega a palavra falada era muito exaltada. Os gestos, as posturas, a teatralização e as demais formas de se expressar nada mais eram do que modos diferentes de atrair o público. Naquela época havia um grande prazer em assistir a uma peça oratória, porque esta era a única forma de transmitir conhecimentos. Os livros e a gama enorme dos meios de comunicação de massa que temos nos dias que correm, principalmente os recursos da Internet, eram inexistentes.

Deleitar o espírito dos ouvintes era o principal fim de todas as orações. Nesse mister, há o exemplo de Demóstenes, o imortal ateniense, muito citado nos livros e cursos de oratória. Desde o seu nascimento, fora tolhido por graves deficiências, inclusive a gaguez. Como tinha a ambição de transmitir aos outros os seus pontos de vista, andava na praia com pedrinhas na boca, no sentido de melhorar a nitidez de sua voz. O seu esforço foi tanto que não demorou muito tempo para se tornar o maior orador de todos os tempos.

Observe o que alguns pensadores disseram sobre o tema: para Pascal, "A eloquência é a pintura do pensamento"; para E. Ferri, "A eloquência é o talento de transmitir com força ao espírito dos outros, o sentimento de que o orador está possuído"; para Dammien, "A eloquência é a arte de dizer bem aquilo que é preciso, tudo quanto é preciso, e nada mais do que isso"; para Rui Barbosa, "A eloquência é a sinceridade na ação".

Ilustremos o tema com uma comparação entre o orador e o pintor. O pintor, ao dar vazão ao seu sentimento artístico, fá-lo para si mesmo, para agradar ao seu ego, à sua concepção de arte; o orador, não. Ele tem que falar para atingir a quem ouve, isto é, à plateia. Pergunta-se: como será ouvido se não conseguir prender a atenção de quem o escuta? Este deve ser o grande exercício do orador: agradar aos olhos e aos ouvidos do público. Para tal finalidade, precisa de persuasão e de eloquência.

A eloquência não é falar fácil e corretamente, impressionar os sentidos alheios, mas expressar o pensamento próprio, com graça, equilíbrio, harmonia e muita perspicácia de tempo e lugar.

 

Escrever

Escrever e falar podem ser sempre aprimorados. Existe alguma técnica específica? Como proceder? Há livros, cursos, professores e a Internet. Todos estes veículos de comunicação oferecem-nos sugestões valiosas, mas o trabalho maior pertence a nós mesmos. Quer dizer, se quisermos escrever temos de pegar a caneta, o papel e colocar mãos à obra. Em outras palavras, temos de aprender a escrever, escrevendo. Vejamos algumas dessas regras.

Coerência, clareza e concisão são as primeiras recomendações. A coerência diz respeito ao fluxo de ideias. A frase anterior tem que ter relação com a presente e esta com a seguinte, pois se não seguirem esse fluxo lógico, o leitor terá dificuldade para entender a lógica de um raciocínio. Para obter a clareza, as frases não devem ser rebuscadas, nem conter ambiguidade ou mesmo a vaguidade. Concisão é exprimir muito em poucas palavras. A navalha de Ockham é digna de nota: "onde houver duas definições, a que tiver menor número de palavras deve ser a preferida".

Compromisso com a verdade. Todos os que se colocam como propagadores da informação devem fazê-lo dentro de uma ética profissional, ou seja, evitar a perda de tempo do leitor. O mesmo se aplica ao discurso falado. Sobre esse mister, há uma advertência interessante: "aquele que não fosse sincero com o ouvinte ou leitor deveria morrer na cadeira elétrica". O tempo é o bem mais precioso que possuímos. Não deveríamos desperdiçá-lo com palavras vãs, discurso oco e histórias que não contribuem para o engrandecimento moral e espiritual do ser humano.

A introdução é um entrave? Em ensaios, ou trabalhos mais longos do que uma simples página, temos dificuldade de fazer a introdução. Os entendidos no assunto instruem-nos a deixar essa fase para o final do trabalho. Ao mesmo tempo, aconselham-nos a anotar o transcurso do pensamento, sem nos preocuparmos com a sua apresentação. Depois que tudo estiver documentado, forma-se naturalmente em nossa cabeça as palavras introdutórias ao tema. Basta apenas colocá-las no seu devido lugar.

A limitação de palavras imposta ao tema é difícil de ser seguida? Não desistamos. Se nos pedirem x linhas, devemos entregá-lo em x linhas, nem mais e nem menos. Como conseguir? Façamos por etapas: escrevamos o primeiro esboço; depois, vamos complementando-o. O computador auxilia, pois podemos ir acrescentando ao que já estiver digitado. Observe a montagem de um filme em que o diretor focaliza um tema específico e vai criando imagens acerca daquele tópico. A criatividade consiste nisso: ampliar as informações acerca de um mesmo tema.

Busquemos a coerência conosco mesmos. Ao escrever, escrevamos para informar ou educar, mas nunca para nos mostrarmos superiores aos outros.

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Palavras e Expressões dos Modernosos

O modernoso gosta de “atingir patamares”, “alavancar processos”, “desenvolver atitudes proativas” e “otimizar resultados”. Para ele, é preciso “tirar decisões”, “priorizar espaços”, “encontrar soluções” – “a nível de país”. E mais

Ele não vive sem o “beach-soccer”, o “delivery”, o “coffee-break” e o evento “in-company”, atividades que devem melhorar o “empowerment”.

Ele não convive; “vivencia”. Ele não anexa; “atacha”.

Para o perfeito “mix”, falta-lhe adotar “randomicamente” atitudes emblemáticas “enquanto ser humano”.

OLIVEIRA, J. P. Moreira de, MOTTA, C. A. de Paula. Como Escrever Melhor. São Paulo: Publifolha, 2000.