26 junho 2008

Educação: Discurso Humano e Discurso Filosófico

discurso humano não se restringe somente à fala e à escrita. Ele representa o próprio existir. O verbo existir (de ex + sistere) tem, entre outros, o significado de ir do que é para o que pode ser. O colocar-se para fora de si envolve infinitas fases de expressão: indivíduo, cultura e sociedade. Dessa forma, o trajar-se transforma-se numa fala expressiva da realidade sócio-cultural (moda) e da realidade pessoal (singularidade de caráter que escapa aos condicionamentos).

discurso educacional difere substancialmente do discurso humano? Se, num conceito amplo, dissermos que o discurso humano é toda expressividade do homem; se avançando mais dissermos que o discurso do homem é fugidio, isto é, ao mesmo tempo que revela, esconde; ao mesmo tempo que diz a verdade, mente, haveria o discurso educacional de ser simples e de fácil decodificação? Também ele revela e esconde, afirma e nega. De tal modo que toda leitura reducionista e simples do texto educacional é enganosa.

discurso filosófico difere do discurso humano e do discurso educacional? A resposta a essa questão requer a reflexão que se segue: a educação desenvolve-se em quatro níveis de hierarquia crescente: o da técnica, o da ação, o da ciência, o da sabedoria. A técnica relaciona-se ao "homem fabricante"; a ação, ao "homem ético"; a ciência, ao "homem profundo"; a sabedoria, ao "homem integral". O discurso filosófico refere-se à sabedoria que, transcendendo a técnica, a ação e a ciência, transforma-os em impulsos-amor.

O educador, não o podemos negar, é aquele que intervém em vidas. Para tanto, necessita de muito equilíbrio consciente, o que só alcançará interpelando a sabedoria filosófica e, ouvindo-a, chegar à consciência de sua ciência. Assim, procurará intervir sem invadir, propor sem impor, tentar esclarecimentos sem dar soluções dogmáticas. O importante é que o educador tenha mente aberta e esteja perceptivo ao crescimento de todas as pessoas envolvidas no processo de aprendizagem.

A filosofia não pode ser um discurso que se fecha sobre si mesma. Ela deve abrir-se aos discursos da ciência. Não há sabedoria no isolamento. Igualmente, a ciência deve abrir-se ao discurso filosófico, pois, negando-o, pode incorrer na formação de especialistas ignorantes de tudo o mais. Dessa forma, o filósofo e o cientista devem estar constantemente se comunicando, a fim de não tornar os seus conhecimentos totalmente esotéricos.

Construamos o nosso discurso educacional dentro do mais amplo entendimento. Só assim conseguiremos transmitir o conhecimento impregnado da mais alta dose de verdade.

Fonte de Consulta

MORAIS, R. de. Discurso Humano e Discurso Filosófico na Educação. In MORAIS, R. de (org.). Filosofia, Educação e Sociedade: ensaios filosóficos. Campinas, SP, Papirus, 1989.


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