A relação ensino-aprendizagem é
sempre nova: não há métodos, fórmulas e técnicas definitivos para ensinar, pois
em cada um deles sempre encontramos aspectos positivos e negativos. A postura,
a sagacidade e o carisma do professor também exercem bastante influência nessa
relação. Entretanto, poderíamos perguntar: quando o professor ensina, o aluno
realmente aprende? Pode haver ensino sem aprendizagem? E aprendizagem sem
ensino, sem um professor? O que significa a palavra ensinar? E a palavra
aprender? Rancière, em seu livro, O Mestre Ignorante, discute
essa relação à luz da crítica filosófica.
O Maître Ignorant conta a
história de um professor emancipador, Josep Jacotot, quem, em 1818, enfrenta
uma situação inusitada: seus alunos falam uma língua que ele desconhece
(flamenco) e eles desconhecem a língua que ele fala (francês). O problema
apresentado: como se comunicar sem signo? Contorna-o, porém, com a ajuda de um
intérprete. Ao final, consegue que seus alunos aprendam por si mesmos a falar e
escrever em francês. Conclui que os alunos aprenderam por si mesmos, mas não
sem a presença de um professor. Daí, a dúvida: explicar é ensinar?
Diante desta questão,
Rancière elabora a sua crítica da razão explicadora. Para ele, a explicação é a
“arte da distância” entre o aprendiz e a matéria a aprender, entre o aprender e
o compreender. A função do professor é diminuir essa distância; contudo,
observa que a explicação, em vez de diminuir, aumenta a distância, e por várias
razões, entre as quais, citamos: 1) o autoritarismo do professor explicador que
sabe em relação ao aluno que não sabe; 2) o embrutecimento que decorre da
explicação, pois tanto o professor quanto o aluno não se exercitam na
emancipação do saber.
Rancière critica
também o socratismo. O livro Menon, em que Sócrates ensina um caminho do saber ao escravo, é o seu ponto
de referência. De acordo com Rancière, Sócrates embrutece o escravo, embora a
sua ação se revista de uma aparência libertadora. Sócrates não estimula o
escravo a buscar o saber por si mesmo, apenas permite que este chegue até onde
Sócrates sabe. Em seus diálogos, Sócrates diz nada saber, mas quando formula as
questões, ele quer que o interlocutor chegue até onde ele sabe. O mestre
emancipador vai além da transmissão do conhecimento: permite que o aluno
aprenda algo que não sabia no início da relação pedagógica.
O ato de ensinar deve
ter como princípio a igualdade das inteligências. Ao admitirmos que, quanto ao
pensar, todos somos iguais, estaremos respeitando tanto a nossa quanto a
inteligência do nosso próximo. Com isso, todos estaremos mais capacitados para
a obtenção do conhecimento, venha de onde vier. Se, ao contrário, supusermos
que ensinar tem a ver com explicar, então estaremos embrutecendo e
embrutecendo-nos, porque estaremos submetendo os outros às nossas explicações.
O professor
emancipador deve ter em mente que todos aprendem pela experiência. Assim,
convém que ele esteja sempre propiciando experiências de aprendizado aos seus
alunos. Nada de trazer a resposta pronta. Cada qual que a busque por si mesmo.
Fonte de Consulta
KOHAN, Walter Omar. Sobre o Ensinar e o Aprender... Filosofia. In PIOVESAN, Américo et al. (org.). Filosofia e Ensino em Debate. Rio Grande do Sul: Unijui, 2002. (Coleção
Filosofia e Ensino, 2).
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