Ninguém ensina ninguém? É possível o aprendizado?
Está correta a frase de Kant em que afirma que não devemos aprender filosofia e
sim aprender a filosofar? Há métodos de ensino? E de aprendizagem? Quem é que
mais aprende: o professor ou o aluno? Ensinamos somente com as matérias
expostas na sala de aula? Reflitamos sobre esse tema da atualidade didática.
Comecemos, primeiramente, com uma certa dose de
desconfiança em relação à perfeita sintonia entre o ensino e a aprendizagem, ou
seja, entre aquilo que ensinamos e o que o aluno aprende, entre o que
transmitimos e o que aluno assimila. A comunicação interpessoal tem muitas
barreiras: barulhos, distrações, ignorância do assunto, falta de interesse etc.
Isso tudo impossibilita que a mensagem transmitida pelo emissor (professor)
chegue inteira na mente do receptor (aluno).
A relação ensino-aprendizagem assemelha-se à
Parábola do Semeador. Nessa parábola, contada por Jesus, o semeador saiu a
semear: algumas sementes caíram à beira da estrada, outras entre os
pedregulhos, outras no meio do espinheiro e outras em terra fértil. As sementes
que caíram em terra fértil germinaram e deram frutos cento por um. Do mesmo
modo são os ensinamentos: o professor transmite uma única mensagem; como há
diversos tipos de cabeças, haverá diversos tipos de aprendizado. Somente a
cabeça concentrada na mensagem receberá cento por um.
Um professor, quando prepara a sua aula, pensa na
melhor forma de transmitir os seus conhecimentos. Ele planeja o seu roteiro,
cria seus gráficos, elabora suas transparências e utiliza toda a sorte de
recursos, para tornar o ensino o mais produtivo possível. Se, por outro lado, a
cabeça do aluno estiver em outra dimensão, com certeza não atingirá o seu
objetivo, porque o ensino foi transmitido, mas não houve recepção por parte do
aluno. É por isso que não se pode confiar plenamente nessa relação cômoda de ensino-aprendizagem.
Para que tenha êxito em suas explanações, o
professor não deve se colocar como o "sabe-tudo", aquele que é
superior ao aluno. Convém partir de um não-saber, de um não-professor, a fim de
que tanto um quanto o outro se empenhe numa espécie de "oficina de
conceitos", onde, juntos, procurarão uma nova relação entre o ensino e a
aprendizagem. Em pé de igualdade, haverá maior produtividade do ensino: muitas
coisas que ele imaginava importantes deixam de ser e, muitas outras, que não
dava importância acabam tendo.
Se há métodos para ensinar, não os há para
aprender: o ensino é público; o aprendizado, pessoal. A aprendizagem depende
muito do que o aluno já conhece, do seu interesse em aprender e da sua atitude
frente ao conhecimento. É possível que, na educação voltada para a memorização,
ele dedique pouco tempo na absorção da matéria; contudo, na educação voltada
para o "conceito", ele pode se empenhar cem por cento. Uma árvore
produz somente os frutos de que é capaz: um abacateiro só pode dar abacate e
não uvas.
É preciso, pois, muita cautela, para transmitir com
qualidade. Não nos esqueçamos de que os nossos gestos e a nossa conduta ensinam
muito mais do que o discurso didático.
Nenhum comentário:
Postar um comentário