17 junho 2009

Semântica

Semântica é o estudo das relações entre linguagem, pensamento e comportamento: entre como conversamos, por conseguinte, como pensamos e, portanto, como agimos. De acordo com Abbagnano, em seu Dicionário de Filosofiasemântica é a doutrina que considera as relações dos signos com os objetos que lhes se referem, que é a relação de designação. Daí, o significado ou significância ser a possibilidade de um signo referir-se a um objeto.

Semântica e discussões. Muitas discussões se degeneram por falta de entendimento entre os seus participantes. Algumas vezes, pelas afirmações egocêntricas, tais como: "Você está absolutamente errado"; "Eu possuo anos de experiência neste assunto"; "Eu sei o que estou falando". Outras vezes, pela colocação indevida das frases. Exemplo: desenha-se um quadrado e se escreve dentro dele: "Toda a afirmação neste quadrado é falsa". Ora, como esta frase está dentro do quadrado, ela também será falsa.

Incapacidade de ouvir o outro. As pessoas, devido às diversas tribulações do dia-a-dia, estão mais preocupadas com elas mesmas, rejeitando a audição do próximo. Observe um ouvinte numa conferência. Como quer fazer valer os seus pontos de vista, tende a achar as elocuções dos outros uma interrupção enfadonha do fluxo dos seus próprios pensamentos. Este bloqueio, contudo, pode ser amenizado se o ouvinte usar a empatia, ou seja, vivenciar o problema do mesmo modo que o emissor.

Semântica internacional. As dificuldades na comunicação internacional são inúmeras; a pior delas, porém, é a de não ter consciência da mesma. Numa conferência internacional, podemos até nos valer de bons intérpretes, que fazem a devida tradução da língua. O problema, contudo, não reside aí, mas, sim, nos padrões de pensamentos daquela comunidade, pois quer queiramos ou não somos influenciados pelos usos e costumes de um povo, de uma nação. Observe as palavras contribuable (francês) e taxpayer (inglês). As duas palavras denotam pagamento de imposto. Para os franceses, contribuable expressa a generalidade do imposto; para os americanos, taxpayer é dinheiro debitado em conta.

Semântica e senso comum. O senso comum é útil para as ações do cotidiano, mas não serve para situações de grande complexidade. Vejamos. Em uma determinada sala, há um grupo de filósofos discutindo sobre os problemas existenciais do ser humano. Terminada a reunião, dirigem-se para a porta, que não se abre. Chega uma pessoa, que não tem a beca de doutor, e diz que é só puxar a maçaneta. Esta solução fácil não pode ser estendida para as questões vitais da existência, porque o sentido da vida é muito mais complexo do que simplesmente abrir uma porta.

A semântica e a decifração dos signos, que se escondem por detrás das palavras, é sempre louvável. Louvável também é a preocupação com o contexto em que a palavra foi dita. Tendo esses cuidados, podemos melhorar consideravelmente a nossa comunicação em sociedade.

Fonte de Consulta

HAYAKAWA, S. I. (Org.). Uso e Mau Uso da Linguagem. Tradução de Anne Maria Jane Koenig e outros. São Paulo: Pioneira, 1977 (Biblioteca Pioneira de Arte e Comunicação)

 

Sem Compreensão não Há Comunicação

A comunicação pode ser dividida em: 1) atos que comunicam certo comportamento ou estados emocionais (comunicação do comportamento); 2) atos que comunicam certo conhecimento ou estados mentais (comunicação intelectual). Em toda comunicação há os ruídos, ou seja, as interferências entre a emissão da mensagem e a decodificação por parte do receptor. As avarias na percepção do signo vão desde a forma incorreta de ouvir uma conferência até as dificuldades semânticas na comunicação internacional.

Diz-se que as abelhas se comunicam através da "dança", as formigas por intermédio dos "toques nas antenas", os pássaros pelos "cantos" e os seres humanos pelos "gestos". Será isto comunicação? Sim, mas pertencem ao grupo da comunicação dos estados emocionais. Contudo, difere da comunicação essencialmente humana, que transfere certos conhecimentos e certos estados mentais.

ato de comunicação realiza-se da seguinte maneira: uma pessoa faz uma declaração; a outra pessoa, ouvindo esta declaração, compreende-a, isto é, experimenta estados mentais análogos (não os mesmos do declarante). Em contraste com a comunicação emocional, a comunicação intelectual pressupõe a compreensão da mensagem, pois as tarefas intelectuais de comunicação só podem ser desempenhadas por uma linguagem de palavras, uma linguagem fônica (ou sua forma escrita).

Anotações sobre as dificuldades de compreensão.

1) Uma criança está brincando numa sala de estar. Um observador diz: "Que criança comportada!" Outro observador, que gosta de móveis mais do que crianças, diz: "Que criança indisciplinada!" Pode-se notar que nenhuma destas afirmações nos dá um "mapa" descritivo do "território" do comportamento da criança.

2) Segundo um relato popular, George Westinghouse projetou um freio de trem operado por ar comprimido. Após tê-lo patenteado, lutou para convencer os administradores das ferrovias do valor da sua invenção. Afirma-se que Cornelius Vanderbilt da Central de Nova York respondeu: "você pretende me dizer, frente a frente, que um trem em movimento pode ser parado com vento?"

3) Padrões de pensamento entre povos. "O entendimento mútuo e as relações pacíficas entre os povos têm sido obstaculizados não apenas pela multiplicidade de línguas, mas também, em grau maior, pelas diferenças dos padrões do pensamento, isto é, pelas diferenças dos métodos adotados para definir as fontes do conhecimento e para organizar o pensamento coerente. Nenhum cérebro pode funcionar livremente sem determinadas suposições quanto à origem de seus conceitos básicos e sua capacidade de relacionar estes conceitos com os de outros. Estas suposições têm sofrido mudanças significativas no transcorrer do tempo e têm variado mais ou menos entre nações e grupos sociais num dado tempo. Estas diferenças nos métodos de raciocinar têm gerado rancor e mesmo ódio". (Karl Pribam)

Ainda: o maior bloqueio à comunicação é a falta de capacidade do homem para ouvir outra pessoa de modo inteligente, compreensivo e hábil.

Fonte de Consulta

HAYAKAWA, S. I. (Org.). Uso e Mau Uso da Linguagem. Tradução de Anne Maria Jane Koenig e outros. São Paulo: Pioneira, 1977 (Biblioteca Pioneira de Arte e Comunicação)