O imaginário e o real fazem
parte do nosso universo de valores. Dizemos que a Ciência é positiva, isto é,
que ela se baseia exclusivamente nos "fatos" ou nos
"experimentos". A Física, por exemplo, é separada da Metafísica e da
Teologia, a fim de ser pensada logicamente. Mas, como separar o físico de suas
concepções de vida?
A argumentação científica fundamenta-se na formulação e na comprovação
das hipóteses, através da "experimentação". Procede-se indutivamente,
fazendo-se um corte na realidade, no intuito de aprofundar a compreensão do seu
objeto de estudo. Alguns biólogos poderão interessar-se pela explicação da
origem da vida; alguns físicos, pela propagação da luz; alguns economistas pela
distribuição de renda. As informações coletadas e testadas estatisticamente
adquirem caráter de teoria transformando-se em paradigmas das respectivas
ciências.
Para elaborarmos corretamente a
ciência, devemos agir à semelhança do cientista anárquico. Para ele, tudo vale;
além disso, está sempre fortalecendo
o argumento fraco. Utiliza-se a contra-indução, que é o
processo de rejeitar aquilo que já foi provado. Nesse sentido, destaca aqueles
pontos em que não houve adequação exata entre a realidade e a teoria. Estuda-os
com o devido cuidado, a fim de chegar ao verdadeiro conhecimento que os fatos
revelam.
A defesa das causas perdidas é uma postura que auxilia o nosso poder de
argumentação. Empenhando-nos denodadamente na perquirição dos fatos adversos,
penetraremos no âmago da pureza científica. Desta forma, seremos advertidos
contra os falsos profetas. O verniz do sensacionalismo passa, mas a essência da
verdade fica, no fundo, como um farol para a eternidade.
Falar não significa argumentar. Às
vezes, desejosos de aparecermos em público, tecemos comentários e mais
comentários. Contudo, não chegamos a pensar; simplesmente expressamos pensamentos.
Uma reação consciente ao que está acontecendo no "aqui e agora" tem
mais valor do que toda a tagarelice mental. Assim, vigiemo-nos constantemente,
para não sermos vítimas dos desmandos intelectuais.
Argumentar não é tarefa fácil.
Geralmente expressamo-nos tais quais os "mortos-vivos" e, depois, queremos ser aureolados como se
fôssemos os grandes formadores de opiniões. Cuidemos, pois, de entrar pela
porta estreita porque larga é a porta da perdição.
Fonte de Consulta
FEYERABEND, P. Contra o Método.
Rio de Janeiro, F. Alves,1977.
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