Aprender a desaprender é uma atividade que merece
todo o nosso cuidado. Com o passar do tempo, percebemos um sem-número de
introjeções em nossa maneira de pensar e de agir. Uma delas pode perfeitamente
se referir aos livros. Dizem-nos: você tem que ler isso, você tem que ler de
tudo, você tem que saber o conteúdo de tais e tais livros. Essa postura
do ter de ler leva-nos a abarrotar a nossa biblioteca e, consequente,
o nosso cérebro, dificultando a invenção, a criação.
Desaprender é jogar no lixo o que não nos serve
mais. Juntamos um livro aqui, uma revista
ali, um artigo acolá e, pronto, a nossa biblioteca fica repleta. Olhamos para
ela e verificamos que não sobra espaço para mais nada. Acrescentamos uma nova
estante e, em pouco tempo, fica cheia de novo. O mesmo acontece com o nosso
cérebro, que também fica saturado de informações. Pensamos: preciso eliminar
alguma coisa, esvaziá-lo. Aí está o problema. No momento em que estamos prestes
a nos desfazer de algo, surge a lembrança de quem o deu, e recuamos. Dizemos
para conosco: o que essa pessoa pensaria de mim vendo o seu presente ir para o
cesto de lixo?
Desaprender é saber dizer não. Quantas não são as vezes que dizemos
"sim" e nossa vontade era a de dizer "não". Nosso chefe, no
escritório, pede para fazermos isso, depois aquilo e assim por diante. Às vezes
somos obrigados a levar serviço para casa, nos fins de semana, a fim de atender
ao seu pedido, o que nos deixa estressados. Por medo ou covardia, não sabemos
dizer a ele que a quantidade de trabalho extrapola a nossa capacidade física e
mental. O estresse, porém, continua a aumentar. Um "não" muito
demorado pode ser fatal para o nosso equilíbrio físico e espiritual.
Desaprender é fazer as mesmas coisas, mas de modo
diferente. Este é um apelo à criatividade e à
liberdade do espírito. Dependendo do método adotado pelo professor, uma aula
pode ser chata ou produtiva. Se o professor, na época moderna, continuar com o
método da Idade Média, em que só ele sabia e os alunos eram ignorantes, a aula
poderá se tornar chata. Contrariamente, adotando uma postura liberal, poderá
torná-la produtiva, com a participação espontânea dos alunos.
Desaprender é pensar pela própria cabeça. Nesse caso, convém verificarmos se está havendo
equilíbrio entre a nossa produção literária e a informação que estamos buscando
dos outros. É preferível errar pela falta do que pelo excesso de dados
externos. Lembremo-nos de que educar é deseducar no sentido de eliminar o que
de errado se aprendeu em outras épocas. O ser humano culto não é aquele que
sabe o conteúdo de todos os livros, mas aquele que sabe
se situar no meio deles.
Desaprender implica aprender com segurança e
produtividade. A verdade é uma só. Busquemo-la com todas as forças de nossa
alma. Somente ela é capaz de nos libertar, como asseverava Cristo em suas
prédicas.
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