O princípio básico, inerente à comunicação genuína,
é a procura do outro, sem quaisquer tendências que visem ao interesse próprio.
Quando o procuramos para proveito próprio, como, por exemplo, para pedir
favores escusos, a comunicação deixa de ser genuína, pois foi introduzido um
viés no relacionamento interpessoal. Pergunta-se: como estamos nos relacionando
com o nosso próximo? Estamos sendo autênticos? Estamos procurando tirar
proveito dele? Estamos o usando para o nosso benefício pessoal? Façamos uma
pequena reflexão em torno do tema.
O mito, no seu sentido pejorativo, é um dos
entraves à boa comunicação. Como isso se dá? Em muitos mitos, há a criação de
heróis, de salvadores da pátria. Consciente ou inconscientemente, transferimos
a esses heróis a realização de nossos desejos, de nossas aspirações. Damos-lhes
uma demasiada importância, fora da realidade. Observe o mito do "cowboy"
americano. Ele chega não se sabe de onde, com a finalidade precípua de debelar
o mal, de fazer justiça. O casamento não está em seus planos, pois, mesmo com o
assédio das mulheres, ele permanece só. Depois de ter estabelecido a paz e a
harmonia, despede-se e dirige-se a outra região, para dar continuidade ao seu
trabalho.
Vejamos, também, o mito do Narciso. Conta-se que
Narciso se debruça sobre um poço e se apaixona pela sua imagem que vê espelhada
na água. Nesse mito, o que muitas vezes se esquece, é que Narciso realmente
acredita que ama uma outra pessoa. Esse é o ponto essencial do mito; se não
prestarmos atenção nele, perderemos a verdadeira mensagem. O que é terrível, é
que Narciso não sabe que a imagem no poço é a sua própria imagem e não a de uma
outra pessoa. Ao tentar abraçar essa outra pessoa – a sua própria imagem
refletida no poço – a fim de sentir o outro, Narciso é amaldiçoado pelos deuses
e o objeto de seu amor desaparece.
O celibato é uma forma de comunicação, geralmente
caracterizada por mal-entendidos, em virtude dos estereótipos linguísticos ao
seu derredor. Pensa-se, de forma geral, que o celibatário é contra o casamento.
Esquece-se de que a palavra celibato, cuja origem alemã é ehelos,
significa "não-casamento", estado de não ser casado. Muitos espíritos
escolhem esta difícil prova, não para o prazer da liberdade, mas para se
dedicarem mais inteiramente ao seu próximo. À semelhança de Jesus, essas
pessoas estão sempre repletas do amor ágape, do amor
transcendental.
Para ilustrar o tema, lembremo-nos das palavras
magnanimidade e magnificência, tão bem explicadas por Santo Tomás de Aquino.
A magnanimidade é a "grandeza de alma", é o
indivíduo que se projeta no tempo e no espaço para adquirir os conhecimentos
superiores do espírito. A magnificência é "grandeza no
fazer", é a pessoa que sai de si mesmo para auxiliar o seu próximo,
através da caridade material e espiritual.
Sair de si implica risco. Saibamos ir ao encontro
das necessidades alheias sem, contudo, esforçarmo-nos demasiadamente.
Lembremo-nos do adágio dos antigos: "A corrupção do melhor é o pior".
Fonte de Consulta
CURRAN, Charles A. A Dinâmica Psicológica
da Vida Religiosa. Tradução de Margarida M. C. Oliva. São Paulo: Loyola,
1978.
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