"Dois olhos, dois ouvidos, só a boca que não
tem par. Por isso, é mais prudente ver ouvir do que falar".
Ouvir é solidarizar-se com o próximo, é prestar o
devido respeito à sua personalidade. Quem ouve pratica a caridade dos ouvidos,
pois os empresta a quem fala. A caridade de ouvir, porém, deve ser espontânea,
fazendo parte do desenvolvimento integral do ser humano. Reflitamos sobre a
arte de ouvir, muito esquecida nos dias que correm.
Ouvirmo-nos mutuamente é um aprendizado constante.
As escolas ainda não perceberam essa verdade, pois dão mais ênfase ao ler (usar
os olhos) do que ao ouvir. Esquecemo-nos de que passamos muito mais tempo
ouvindo do que falando. E, mesmos sozinhos, estamos ouvindo a voz de nossa
consciência, que é como algo que fala ao nosso ouvido, ao nosso cérebro. É na
alteridade que os seres humanos se complementam. Assim, podemos aprender muito
ouvindo o trabalhador braçal, o arquiteto e também o homem religioso.
Aristóteles, em sua Metafísica, deu
muita importância ao olhar, mas não se descuidou do ouvir. J. Grimm, por sua
vez, afirma que "O olho é um senhor, o ouvido um escravo, aquele olha em
redor, para onde ele quer, este acolhe o que a ele é levado". Daí, a
tirania do olhar desenvolvida no ocidente. A religião, ao contrário, procurou
atingir os ouvidos dos seus fiéis. Observe que Martinho Lutero, bem como todo o
movimento protestante posterior, enfatizou a dimensão do ouvir a palavra em
oposição à veneração e contemplação da imagem.
O ouvido é a porta de entrada às orientações
espirituais. Para captarmos, porém, as vozes dos Espíritos superiores, há um
requisito básico: fazermos silêncio interior e exterior. Pergunta-se: como os
Espíritos de luz podem se comunicar conosco, se permanecemos o tempo todo
presos às necessidades materiais da subsistência física? É preciso reservar
alguns minutos do nosso precioso tempo para o cultivo de nossa vida espiritual.
Para tanto, convém escolher dia e hora, mantendo-os disciplinadamente.
Uma amizade deve ser regrada pelo ouvir e pelo
falar. Muito mais pelo ouvir. Por que? Quando ouvimos o outro, criamos uma
empatia, que é "entrar dentro do outro", "sentir as suas
emoções". A simpatia (união das emoções) e a antipatia (oposição das
emoções) não auxiliam muito, porque deturpam o verdadeiro sentimento, ora
influenciado pelo otimismo exagerado, ora pelo pessimismo perverso. Cabe-nos,
no exercício do ouvir, eliminar paulatinamente os dogmas e os preconceitos.
Ouçamos atentamente o que o nosso irmão tem a nos
dizer. Ele não foi colocado em nosso caminho por acaso. Percebamos, antes, o
tipo de ensinamento ele está nos transmitindo.
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