A audição está relacionada com a atenção. Embora a palavra atenção contenha certa
ambiguidade, ela pode ser expressa em sentido periférico ou dirigido. Em sentido
periférico, somos passíveis de ouvir todos os sons que nos rodeiam;
em sentido dirigido, só captamos aquilo a que a nossa mente
atentar. Assim, a atenção dirigida pode ser também interpretada como uma
atenção concentrativa.
Ouvir é um ato consciente, é a renúncia do "eu", é um esforço
infatigável da vontade. Ouvimos mal porque não colocamos as sentinelas do
interesse naquilo que estivermos fazendo, porque não damos o devido respeito ao
próximo, porque nos julgamos superiores a tudo e a todos. Como estamos sempre
centrados sobre o nosso projeto de vida, os nossos pensamentos e a nossa
maneira de ser, nosso primeiro impulso é falar sobre estes temas e não o de
ouvir o próximo. Ouvi-lo faz-nos perder tempo, e raciocinamos da seguinte
forma: eu é que sei; o outro não sabe nada.
Preconceito é um tipo de juízo que afeta
negativamente a nossa audição.
Pré-conceito significa formar um conceito antecipado das coisas. Como o nosso
cérebro possui um dispositivo que faz parecer ouvir quando nada ouvimos,
podemos estar imersos em nós mesmos dando a impressão que estamos ouvindo o
outro. Muitas vezes somos parecidos aos homens que Platão colocou dentro da
caverna: olhamos apenas nossas sombras e não somos capazes de perceber as luzes
do outro, daquele que saiu ao Sol. É que a estima própria dificulta olharmos os
outros como eles realmente são.
A preocupação também dificulta a boa audição. Por que? Observe que a palavra preocupação, que
significa prender a atenção, é uma ocupação antecipada à própria
ocupação, por isso pré-ocupação. Assim, se nossa mente estiver envolta com os
problemas do desemprego, da doença, do mau relacionamento no lar e da falta de
dinheiro, convém nos retirarmos, buscarmos a solidão e o silêncio, para não
faltarmos com devido respeito ao outro. Lembremo-nos de que toda a preocupação
é intermitente. Cicatrizada a ferida, estaremos novamente aptos para melhor
ouvir o nosso interlocutor.
Numa palestra, a fala e a audição devem estar em
perfeita harmonia. Se estivermos na qualidade de
ouvintes, esforcemo-nos por manter a mente absorta no que nos estão
comunicando, quer soe bem ou mal aos nossos ouvidos; na qualidade de oradores,
chamemos a atenção do ouvinte e procuremos manter acesa a chama do seu interesse.
Sabedores de que a mente se distrai a cada 5 minutos, convém estarmos
constantemente modificando o timbre de voz, o ritmo do discurso e as posturas
das expressões corporais.
Por fim, atentemos para o grande ensinamento
contido nesses pequenos versos: "Dois olhos, dois ouvidos, só a boca que
não tem par, por isso é mais prudente ver e ouvir do que falar".
Fonte de Consulta
PENTEADO, J. R. W. A Técnica da Comunicação
Humana. São Paulo, Pioneira, 1964.
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