O discurso humano não se restringe
somente à fala e à escrita. Ele representa o próprio existir. O verbo existir
(de ex + sistere) tem, entre outros, o significado
de ir do que é para o que pode ser. O colocar-se para fora de si envolve
infinitas fases de expressão: indivíduo, cultura e sociedade. Dessa forma, o
trajar-se transforma-se numa fala expressiva da realidade sócio-cultural (moda)
e da realidade pessoal (singularidade de caráter que escapa aos
condicionamentos).
O discurso educacional difere
substancialmente do discurso humano? Se, num conceito amplo, dissermos que o
discurso humano é toda expressividade do homem; se avançando mais dissermos que
o discurso do homem é fugidio, isto é, ao mesmo tempo que revela, esconde; ao
mesmo tempo que diz a verdade, mente, haveria o discurso educacional de ser
simples e de fácil decodificação? Também ele revela e esconde, afirma e nega.
De tal modo que toda leitura reducionista e simples do texto educacional
é enganosa.
O discurso filosófico difere do
discurso humano e do discurso educacional? A resposta a essa questão requer a
reflexão que se segue: a educação desenvolve-se em quatro níveis de hierarquia
crescente: o da técnica, o da ação, o da ciência, o da sabedoria. A técnica
relaciona-se ao "homem fabricante"; a ação, ao "homem
ético"; a ciência, ao "homem profundo"; a sabedoria, ao
"homem integral". O discurso filosófico refere-se à sabedoria que,
transcendendo a técnica, a ação e a ciência, transforma-os em impulsos-amor.
O educador, não o podemos negar, é aquele que
intervém em vidas. Para tanto, necessita de muito equilíbrio consciente, o que
só alcançará interpelando a sabedoria filosófica e, ouvindo-a, chegar à
consciência de sua ciência. Assim, procurará intervir sem invadir, propor sem
impor, tentar esclarecimentos sem dar soluções dogmáticas. O importante é que o
educador tenha mente aberta e esteja perceptivo ao crescimento de todas as
pessoas envolvidas no processo de aprendizagem.
A filosofia não pode ser um discurso que se fecha
sobre si mesma. Ela deve abrir-se aos discursos da ciência. Não há sabedoria no
isolamento. Igualmente, a ciência deve abrir-se ao discurso filosófico, pois,
negando-o, pode incorrer na formação de especialistas ignorantes de tudo o
mais. Dessa forma, o filósofo e o cientista devem estar constantemente se
comunicando, a fim de não tornar os seus conhecimentos totalmente esotéricos.
Construamos o nosso discurso educacional dentro do
mais amplo entendimento. Só assim conseguiremos transmitir o conhecimento
impregnado da mais alta dose de verdade.
Fonte de Consulta
MORAIS, R. de. Discurso Humano e Discurso Filosófico na Educação.
In MORAIS, R. de (org.). Filosofia, Educação e Sociedade: ensaios
filosóficos. Campinas, SP, Papirus, 1989.
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