O conceito de liderança tem, hoje,
uma acepção bem diversa do que teve na Antiguidade e na Idade Média, em que
prevaleciam, com maior ou menor ênfase, a força bruta, o poderio do exército, a
autoridade de nascença etc. Nesse sentido, o papel da liderança, na atualidade,
desenvolve-se num contexto específico de interações e reflete em si mesmo (e na
sua "tarefa") a "situação" desse contexto; manifesta também
determinadas motivações do líder e exige atributos peculiares de personalidade
e habilidade, além de recursos específicos; relaciona-se ainda com as
expectativas dos liderados, seus recursos, suas aspirações e seus intentos.
Esclarecendo a distinção entre uma liderança
definida pelo papel e um líder que determina o papel, notamos três tipos de
liderança: o líder de rotina, o líder inovador e
o líder promotor. O líder de rotina é aquele que
não reelabora nem seu papel, nem o contexto em que é chamado a desempenhá-lo;
o líder inovador é aquele que reelabora, até radicalmente, o
papel-guia de uma instituição já existente; o líder promotor é
aquele que sabe criar tanto o seu papel como o contexto onde vai desempenhá-lo.
Exemplo: alguém que se torne fundador de um grupo, de um sindicato, partido
político, ou até mesmo de um Estado.
Os manuais de liderança apontam as principais
qualidades do líder: julgamento, iniciativa, integridade, previdência, energia,
encorajamento, capacidade oratória, força de vontade, habilidade nas relações
humanas, confiabilidade etc. Lembremo-nos de que essas qualidades pessoais não
podem ser motivos de generalizações, sem que ultrapassemos os limites da
banalidade. Observe que muitas vezes uma pessoa é líder numa situação, sem o
ser, necessariamente, em situações diferentes. Além disso, deve-se distinguir o
papel que o líder desempenha, não só da imagem que ele faz de si, como da
imagem que os seus comandados fazem dele.
A noção de liderados também tem se modificado ao
longo do tempo. Enquanto no passado a autoridade era linear, ou seja, o chefe
mandava e o subordinado obedecia, hoje os liderados são partes ativas no
processo de liderança, em que a interação entre líder e liderado é uma
constante. Pode-se, assim, caracterizar uma tipologia entre líder e liderado: líderes
que arrastam as multidões — capazes de terem uma grande ideia e pressionarem a
multidão para concretizá-la; líderes que interpretam as multidões — hábeis em
explicitar o sentimento que se encontra obscuro na mente da multidão; líderes
que representam as multidões — limitando-se a exprimir apenas a opinião da multidão,
já conhecida e definida.
A definição de liderança ainda é
muito vaga. Entendendo-a "como alguém que guia e alguém que é
guiado", ela torna-se bastante abrangente, confundindo-se, inclusive, com
a noção de influência. A liderança é sempre ação efetiva, não mero prestigio.
Pode-se afirmar que são líderes os que, no interior de um grupo, ocupam uma
posição de poder que tem condições de influenciar, de forma determinante, todas
as decisões de caráter estratégico. Para isso, devem ser ativos e corresponder
legitimamente às expectativas do grupo.
A química mental está sempre presente em todos os
aspectos do relacionamento humano. Influenciamos e somos influenciados por
outrem. Por isso, a interação entre líder e liderado assume conteúdo relevante
na especificação desses conceitos.
Fonte de Consulta
BOBBIO, N., MATTEUCI, N. e PASQUINO, G. Dicionário
de Política. 2. ed., Brasília, UNB, 1986.
Nenhum comentário:
Postar um comentário