27 novembro 2025

Millôr Fernandes: a Bíblia do Caos (Notas de Livro)

Título: Millôr Definitivo: a Bíblia do Caos

Autor: Millôr Fernandes

Porto Alegre: L&PM, 2011.

Idiota

Depois de certa idade o idiota nem tem graça.

Não reclama, não: quando um cara quer te fazer de idiota, é porque encontrou material.

Dizem que, quando um idiota morre num acidente, toda uma telenovela passa subitamente diante de seus olhos.

Existe coisa mais apropriada do que o silêncio de um idiota?

O idiota sempre vê uma besteira como uma obra-prima. E vice-versa. (Se é que existem besteira e obra-prima.)

Quando você se sente um perfeito idiota está começando a deixar de sê-lo.

Quando você, depois de muito esforço, consegue convencer um idiota com seus argumentos, bem, está na hora de mudar de ideia.

Responda depressa: Quem cuida do id é idiota?

Não há nada mais idiota que um idiota querendo bancar que não é.

Quem diz que ninguém é perfeito é porque nunca viu um perfeito idiota. 

Se você responde a um idiota à altura, isto é, com a mesma espécie de idiotice, no fim de certo tempo sentirá a estranha sensação de estar participando de uma telenovela.

Há muita besteira bem-dita, assim como há muito idiota bonito.

Luz

A luz percorre 299.792.458 metros por segundo. Exceto, naturalmente, no escuro.

Paciência

Se as pessoas tivessem um pouquinho de paciência, esperassem um pouquinho mais, acabavam pensando antes de falar.

Poliglota

Conhece com perfeição seis línguas mortas. Quando morrer vai ser um cadáver extremamente popular.

Pontualidade

Existe coisa que deixe uma pessoa mais irritada do que esperar por outra 45 minutos no lugar errado?

 

 

22 novembro 2025

O Cérebro e o Mundo Audiocentrado

O cérebro, composto por bilhões de neurônios, é um órgão que atua como a central de controle de todas as funções vitais, movimentos, pensamentos, emoções e memória. Sendo o centralizador dos sinais recebidos, pode se adaptar com facilidade. Seu lado mecânico: recebe e interpreta sinais do ambiente e envia mensagens para o resto do corpo. Nesse sentido, ele pode se tornar preguiçoso (lei do menor esforço). Forçando-o a novos desafios, ele também vai se tornando mais produtivo.  

mundo audiocentrado refere-se a uma perspectiva cultural e social que coloca a audição e a comunicação oral como o sentido e o meio de interação predominantes e superiores. A voz, a imagem e o vídeo tornam-se os meios de comunicação em detrimento da escrita. Ao dar ênfase na audição, podem marginalizar ou desvalorizar a cultura e as sociedades das pessoas surdas ou com deficiência auditiva.

Aspectos positivos do mundo audiocentrado. Como a fala é a forma de comunicação humana mais antiga e intuitiva, ela está sendo aproveitada em podcasts, audiobooks, vídeos curtos narrados, aplicativos que “leem em voz alta”, IA capaz de converter qualquer texto em áudio natural. Tudo isso permite “aprendizado enquanto faço outra coisa” — algo que texto e vídeo não permitem. Resultado: o tempo dedicado ao conteúdo oral está crescendo mais rápido que o tempo para o conteúdo escrito.

Aspectos negativos do mundo audiocentrado. Ao nos informamos somente pelo áudio, podemos dificultar o uso do cérebro na sua totalidade, ou seja, refrearmos a análise crítica dos conteúdos recebidos. Nossa visão pode ser distorcida. Podemos nos tornar excessivamente passivos. Podemos estimular a dopamina — neurotransmissor que transmite sinais ao cérebro — exigindo cada vez mais respostas rápidas para a recompensa do prazer. Podemos dificultar a nossa leitura de textos mais longos ou preguiça de fazer um resumo.

O meio-termo. Em qualquer tema ou assunto, a ponderação e a reflexão são fundamentais. Lembremo-nos de Aristóteles que definia o "meio-termo" como a busca por um equilíbrio virtuoso entre dois extremos viciosos (excesso e falta). Como dissemos, o cérebro tem o poder de se adaptar. Nesse caso, evitemos que ele se adapte ao superficial das informações rápidas, tais como aquelas vindas dos vídeos curtos, o aplicativo tictok, por exemplo.  

A IA, os vídeos e os áudios vieram para ficar. Lembremo-nos, também, de que a leitura tradicional e o processo de escrever estimula diferentes partes do cérebro, que exigem mais reflexão e concentração. Mantenhamos, em tudo, o nosso foco de atenção, baseada na lógica, na análise crítica e racional.

Fonte de Consulta

Inteligência Artificial 

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Sobre a Dopamina

A dopamina é um neurotransmissor essencial para a comunicação entre neurônios e está ligada à motivação, ao aprendizado, ao movimento e ao sistema de recompensa. Mais do que gerar prazer, ela impulsiona a busca por recompensas, funcionando como um motor da ação humana. Quando algo potencialmente recompensador é percebido, áreas cerebrais relacionadas ao desejo são ativadas e a dopamina se eleva, criando motivação.

O sistema de recompensa, que evoluiu para garantir a sobrevivência, envolve estruturas primordiais do cérebro, como a Área Tegmental Ventral (VTA) e o Núcleo Accumbens. A VTA detecta necessidades do organismo e antecipa a sensação de satisfação, enquanto o Núcleo Accumbens libera a sensação de prazer. A dopamina, liberada nesse circuito, fortalece comportamentos úteis e participa diretamente da formação de hábitos, aprendizado e também vícios.

Além da VTA e do Núcleo Accumbens, o córtex pré-frontal integra o sistema de recompensa, sendo responsável por decisões, planejamento e controle de impulsos. Quando uma ação gera uma sensação positiva, ocorre o reforço, aumentando a probabilidade de o comportamento se repetir. Esse mecanismo funciona tanto para hábitos saudáveis quanto para vícios, influenciando nossas escolhas e rotinas.

Substâncias psicoativas exploram esse sistema ao aumentar artificialmente a liberação de dopamina, gerando sensações intensas de prazer e bem-estar. Entretanto, o uso repetido leva à desregulação dos circuitos cerebrais, reduz fluxo sanguíneo e altera o equilíbrio químico. Embora provoquem efeitos imediatos agradáveis — como os primeiros goles de álcool, que causam euforia e relaxamento —, essas substâncias podem resultar em dependência e exigir posterior readaptação cerebral na desintoxicação.

O tabagismo é um exemplo claro desse processo. A nicotina imita a acetilcolina, estimulando neurônios que liberam dopamina e promovendo alívio rápido em segundos. Com o uso contínuo, o cérebro reduz sua produção natural e aumenta a necessidade de nicotina para manter o equilíbrio, criando dependência física e comportamental. Essa adaptação fecha um ciclo difícil de romper, motivo pelo qual parar de fumar exige estratégias de substituição e tempo para o cérebro se reajustar.

Fonte de Consulta

Redear’s Digest, Um Cérebro para a Vida Inteira. Tradução de Ana Valéria Lessa... et al. Rio de Janeiro: Redear’s Digest, 2010.

ChatGPT

 

 


18 novembro 2025

Frases do Livro Como Fazer Apresentações com Segurança

Oratória não é comunicação. Finley Peter Dunn, um humorista do início do século vinte, declarou certa vez: "Um homem nunca se torna orador quando tem algo a dizer."

Sir Winston Churchill assim expressou sua opinião acerca dos oradores: "Podem ser melhor descritos como [pessoas] que, antes de se levantarem, não sabem o que irão dizer; quando estão falando, não sabem o que dizem; e quando voltam a sentar-se, não sabem o que disseram."

Como orador, você está imbuído de uma responsabilidade seriíssima. O reverendo Jenkin Lloyd Jones escreveu em um de seus livros: "O homem que faz uma palestra desinteressante de trinta minutos desperdiça apenas meia hora de seu tempo. Mas ele desperdiça uma centena de horas do tempo de sua plateia mais de quatro dias, o que deveria ser considerado crime passível de pena de morte."

Como pensar não é nada fácil, a maioria de nós evita isso. Thomas Edison disse certa vez: "Não há o que o homem não faça para evitar a dura tarefa de pensar." O que muitas vezes passa por pensar nada mais é que redispor opiniões.

Alfred Korzybski, cientista que esteve em atividade há uns sessenta anos, declarou: "Existem duas formas de passar pela vida; acreditando em tudo ou duvidando de tudo." Quando você exige de si mesmo ser um pensador responsável, passa a perceber pensamentos irresponsáveis no raciocínio das outras pessoas, o que pode ser recompensador.

"Nossos planos fracassaram porque não tínhamos objetivo. Quando um homem não sabe a que porto deseja chegar, nenhum vento é o vento certo." (Sêneca)

O medo de palco é considerado o medo que pode transformar um brutamontes num bebê chorão. Uma mulher diz: "É como uma jiboia invisível que se enrosca em torno de meu cérebro, deixando-me tão paralisada que mal posso falar."

Caso alguma coisa assim ocorra, a melhor atitude que poderá tomar será não fazer nada. Oscar Wilde comentou sobre um orador seguro: "Ele sabe exatamente quando não dizer nada."

 Você jamais comoverá os outros, de coração para coração, se não lhes falar de coração.” (Goethe)

Morri de rir com um cartum que mostrava um orador de jantar dirigindo-se a uma plateia adormecida com as palavras: "E agora, para concluir... ACORDEM TODOS!"

Will Rogers sabia cativar uma plateia. Ele costumava dizer: "Diga-lhes o que vai dizer a eles, então diga, e em seguida diga-lhes de novo o que acaba de lhes dizer."

Um amigo meu, que é um palestrante muito procurado para falar sobre o poder do pensamento positivo, usa sempre o mesmo material. Certa vez perguntei a ele: "Quando você fala a mesma coisa para a mesma plateia ano após ano, as pessoas não ficam entediadas?"

Ele riu. "Nunca! Elas pagam para me ouvir falar o que já lhes disse antes. Elas se sentem seguras e relaxadas sabendo que o que vou dizer vai reforçar aquilo em que elas já acreditam. É a mesma segurança que uma criança experimenta ouvindo um conto de fadas que conhece de cor, lido para ela por alguém que ela ama. O familiar é sempre reconfortante."

Washburn Child, embaixador americano na Itália na década de 1920, certa vez confidenciou o segredo de seu sucesso como diplomata: "Sinto-me tão empolgado em relação à vida que simplesmente não consigo ficar parado. Tenho de dizer às pessoas o que sinto."

Ao escrever sobre administração, o especialista Edward C. Schleh afirmou: "O líder é um catalisador, uma pessoa que estimula as outras à ação, a fonte da qual se extrai a energia, o cerne do espírito colaborativo do grupo."

Alfred J. Marrow, outro fomentador de habilidades de administração, defende a liderança como uma característica humana: "A verdadeira liderança distingue-se não pela dominação, mas pelo serviço. Trata-se de uma habilidade desenvolvida num processo de comunicação bidirecional — um feedback contínuo."

O presidente dos EUA Dwight D. Eisenhower descreveu a liderança como a "capacidade em decidir o que deve ser feito e depois despertar nos outros o desejo de fazê-lo."

O satirista vitoriano Samuel Butler escreveu: "Aquele que contra sua vontade atende é por iniciativa própria negligente."

"Os melhores líderes são aqueles dos quais as pessoas mal se dão conta. Quando o trabalho está acabado, as metas cumpridas, seus seguidores dirão: 'Fizemos tudo sozinhos." (Antigo provérbio chinês)

"Lembre-se, ninguém pode fazer você sentir-se inferior sem o seu consentimento." (Eleanor Roosevelt)

Eleanor Roosevelt, admirada no mundo inteiro por sua capacidade de cativar plateias de todos os tipos, ficou apavorada na primeira vez em que falou em público. Ela declarou: "Acredito que todo mundo pode vencer o medo fazendo as coisas que teme fazer, contanto que as faça até montar um arquivo de experiências felizes."

Noventa por cento de nós estamos insatisfeitos com a nossa aparência.

William James disse: "Aja como se fosse belo, confiante e elegante, e você o será."

Píndaro (533-422 a.C.) escreveu em Ístmicas ode 4: "Tudo quanto se diz deve ser dito numa voz que possa ser ouvida." E Homero escreveu na Odisseia: "Ele cessou de falar; mas tão agradável era sua voz que aos homens ficou a impressão de ainda o estarem ouvindo."

Francis Bacon (1561-1626) escreveu em um dos seus Estudos, "A leitura torna um homem completo, a troca de ideias um homem diligente e a redação um homem exato."

Em seu livro Psycho-cybernetics (Wilshire, 1972), o Dr. Maxwell Maltz considera: "Precisamos ter coragem para defender nossas ideias, para enfrentar riscos calculados e para agir. Tudo o que vive precisa de coragem para conseguir conforto e felicidade."

O conselho de Benjamin Franklin: "Resolva fazer o que deve; faça sem hesitação o que houver resolvido." Os oradores dinâmicos chegaram onde estão atuando para plateias — não sentados nelas.

Certa vez Franklin Roosevelt estava sentado num tablado, como o orador principal numa cerimônia de formatura, quando percebeu que o que havia pensado dizer não seria nem um pouco apropriado. Ele se levantou e sorriu: "Acabo de decidir que o que vim lhes dizer não vem ao caso. Portanto vou colocar minhas anotações de lado e falar sobre alguma coisa mais adequada à ocasião." 

David Viscott, autor de Risking, escreveu: "Quanto mais você ama a si mesmo, menos dependente fica dos outros." Perguntar às pessoas o que elas pensam de você é pura perda de tempo. Seus amigos não dirão a verdade mais sincera; seus inimigos estão ansiosos em dizer-lhe o quanto você é feio, incompetente ou chato. E quem quer saber a opinião deles, afinal?

O poeta Alfred, Lord Tennyson, alertou para o perigo contido na arte da ilusão dos oradores: "Encanta-nos, orador, até que aos nossos olhos o leão não seja mais que um gatinho."

BUCHAN, Vivian. Como Fazer Apresentações com Segurança: Um Guia para o Sucesso no Mundo dos Negócios. Tradução de Sylvio Gonçalves. Rio de Janeiro: Ediouro, 1995.


11 novembro 2025

Repetição Oral e Repetição Escrita

Repetição oral. É a repetição feita pela fala, de forma espontânea ou deliberada, durante a comunicação verbal. Suas características principais são: imediata e efêmera, espontânea, expressiva. Exemplo: “Ele vem, vem mesmo! Você vai ver!” Repetição escrita. É a repetição feita por meio da escrita, de forma consciente, planejada e visualmente registrada. Suas características são: duradoura, revisável, intencional, visual e estrutural. Exemplo: “Nada muda, nada cresce, nada floresce.”

Na escrita com a possibilidade de revisão e editoração, com apagamentos sucessivos, só se obtém a versão final diminuindo a presença da repetição. Na fala, em que nada se apaga, a repetição faz parte do processo formulativo. Sua presença na superfície do texto falado é alto, constatando-se que, a cada cinco palavras, em média, uma é repetida. Há uma grande diferença repetir elementos linguísticos e repetir o mesmo conteúdo. (1)

Na fala, pensamos e falamos ao mesmo tempo; por isso, repetimos palavras ou expressões para ganhar tempo enquanto organizamos o pensamento: “Então... então... eu acho que... sabe?” Na escrita, ao contrário, temos tempo para rever e editar. Podemos apagar repetições desnecessárias. Escolhemos palavras com mais cuidado. Buscamos clareza e economia.  Assim, a escrita é reflexiva e condensada, enquanto a fala é espontânea e redundante.

Nos diálogos platônicos, a repetição oral aparece como método de ensino e investigação. Sua função é reforçar uma ideia até que o interlocutor compreenda o conceito. Exemplo: Sócrates repete perguntas de diferentes formas — “O que é a virtude?”, “E o que é o bem?”, “E o justo, é o mesmo que o bom?” A repetição aqui é dialógica, não estética: serve para fazer pensar. (2)

Nos evangelhos, Jesus frequentemente repete expressões como: “Em verdade, em verdade vos digo…” “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.” Essas repetições orais reforçam a autoridade e a memorização da mensagem. A palavra falada tem poder espiritual — a repetição grava o sagrado no coração do ouvinte. A repetição oral tende ao rito — palavra viva, ação transformadora. A repetição escrita tende ao logos — palavra refletida, ideia pensada. (2)

Repetir para memorizarPara memorizar bem é preciso fazer o esforço de repetir. E é reativando regularmente as informações, para fazer uma revisão, por exemplo, que teremos mais chances de fixá-las na memória de longo prazo. Podemos aplicar o método da repetição espaçada, ou seja, rever o conteúdo em intervalos crescentes (1 dia, 3 dias, 7 dias, 15 dias...)

A Psicologia ensina-nos, também, que a repetição tem que ser moderada, pois com poucas repetições há grande aprendizado, enquanto com muitas o rendimento cai. Os psicólogos aconselham-nos a deixar espaço para o cérebro trabalhar por conta própria, principalmente durante o sono físico.

Na oratória, o palestrante — consciente e lúcido —, deve evitar a repetição que soa como lavagem cerebral. O correto é termos ligação com a verdade dos fatos, mesmo porque, para haver persuasão, é preciso haver credibilidade, pois a liderança social é essencialmente dinâmica e criadora, sendo condição vital do líder o prestígio, que se alicerça nas qualidades da persuasão.

(1) JUBRAN, Clélia Cândida Abreu Spinardi e KOCH, Indegore Grunfeld Villaça (Org.). Gramática do Português Culto Falado no Brasil. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2006.

(2) ChatGPT



 

06 novembro 2025

100 Fábulas Fabulosas (Notas de Livro)

Título: 100 Fábulas Fabulosas

Autor: Millôr Fernandes

Rio de Janeiro: Record, 2003. 

Uma Sátira Virada de Ponta-Cabeça.

Neste livro, entre outras descobertas etimologicamente fabulosas, o autor revela como os animais falavam no tempo em que deram origem a tantas fábulas. Fixando hieróglifos da Rosetta e cruzando-os com ícones do Obelisco Negro de Shalmanazar (858 a.C.), o autor conseguiu reverter diversas fábulas, retirando destas sua moral original.

As fábulas passeiam da China aos nichos do INSS. Das mais simples e básicas emoções humanas até as filosofias mais complexas. Tudo isso temperado por uma noção surpreendente do mundo.