12 março 2011

Debate e Refutação

“A destruição dos falsos conhecimentos não acontece sem sofrimento.”

Debater não é combater. Debater é trocar ideias, palavras, argumentos. Na antiguidade grega, o nascimento do debate coincidia com o nascimento do logos. Argumentar é reconhecer a legitimidade de uma outra argumentação. Para tanto, devemos ter mente o que se pode refutar e o que não se refuta. O debate exige certas regras de comportamento. Não podemos falar a esmo, sem nexo, sem demonstração do que estamos expondo.

O que não se refuta? 1) Não se refuta o vago, ou seja, não se refuta frases relativistas, tais como: “há gosto para tudo”, “tudo tem um lado bom e um lado ruim”. 2) Não se refuta uma demonstração, ou seja, quando o cálculo e a experiência podem decidir, a discussão é inútil. 3) Não se refuta uma filosofia, ou seja, o emprego dos mesmos termos não garante a identidade. Há necessidade de verificar não só o texto, mas o contexto em que cada autor está trabalhando.

Refutar não é polemizar. Enquanto a polêmica leva-nos ao combate, a refutação leva-nos ao raciocínio, à elaboração de argumentos racionais. Polemizar é a ideia de um combate entre inimigos em que alguém tem que sair vencedor. Enquanto a polêmica opõe pessoas, a refutação diz respeito a ideias.

Em se tratando da refutação, há a refutação sofística e a refutação filosófica. A refutação sofística procura armar ciladas para vencer o adversário. Faz uso, inclusive, de argumentos ilícitos. Conforme nos ensina Hegel, em sua dialética, a refutação filosófica não é um aniquilamento, mas uma contraposição de teses, em que o negativo se torna positivo, na medida em que nos permite ir mais adiante. Nesse caso, a verdadeira refutação leva-nos a uma purificação do saber, purificação esta que nos liberta dos falsos saberes.

Não nos esqueçamos de que a linguagem filosófica deve ser submetida à exigência da verdade. Empenhemo-nos, assim, em convencer o auditório através de argumentos racionais em vez de persuadi-lo por meios irracionais.

Fonte de Consulta

RAFFIN, Françoise. Pequena Introdução à Filosofia. Tradução de Constância Morel e Ana Flaksman. Rio de Janeiro: FGV, 2009. (Coleção FGV de bolso. Série Filosofia)

 

2 comentários:

F. Danilo Amaral Ramalho disse...

Senhor Biagi, parabéns por seu blog. Somos entusiastas da mesma arte: a palavra e seu bom uso. Escrevo um material acadêmico sobre oratória e gostaria de usar seu texto sobre DEBATE e REFUTAÇÃO como bom exemplo de explicação. Cito, obviamente, seu nome e blog como fontes seguras.

Agradeço demais e sucesso na caminhada!

Sérgio Biagi Gregório disse...

Espero que que o seu trabalho acadêmico tem bom êxito.