10 fevereiro 2015

Retórica: O Exemplo de Demóstenes

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Demóstenes (384-322 a.C.). Político e orador ateniense. Reconhecendo-se sem dotes precisos para o uso da palavra, empreendeu rigoroso combate para a melhoria de sua voz. Dizem os cronistas que "Demóstenes teve de empenhar contra si mesmo um combate persistente para corrigir os seus defeitos naturais; declamava longos discursos com a boca cheia de seixos; ia à beira do mar opor a sua declamação aos mugidos das vacas para se acostumar às tempestades das assembleias populares; colocava-se perto da ponta de uma espada nua para corrigir certos movimentos desconjuntados do seu corpo; finalmente, mandava cortar o cabelo rente, para que não pudesse sair do seu retiro."

retórica de Demóstenes leva-nos à Grécia antiga. Observe o apreço que os gregos antigos davam à lógica, à palavra e à argumentação, pois não havia o advogado de defesa como temos hoje. Era o próprio litigante que tinha de se defender diante dos juízes. Nessa época, os sofistas adquirem fama, pois ensinavam, através de remuneração financeira, as técnicas de convencimento e de persuasão, extremamente úteis para vencer uma discussão, quer as pessoas estejam ou não com a verdade.  

Lembremo-nos de que Aristóteles distingue três elementos essenciais para a obtenção da persuasão. A esses elementos ele chama písteis (provas) e os classifica em subjetivos e objetivos (Retórica, 1356 a). As provas subjetivas são o ethos e o pathos. As provas objetivas são fornecidas pelo silogismo retórico (enthymema) e pelo exemplo, que corresponde à indução dialética. O pathos aparece sobretudo no epílogo, enquanto o entimema e os exemplos se encontram na argumentação, que constitui o corpo do discurso. 

A tese discursiva de Aristóteles ainda vale nos dias de hoje. Há um proêmio, um entimema, um exemplo e, por fim, o epílogo (conclusão). Esta é a base de um discurso bem ordenado. Os gregos gostavam muito de usar a memória. Tanto é que não escreviam os seus discursos. Talvez por medo de serem chamados de sofistas. Conta-se que Demóstenes foi om primeiro orador a publicar o seu discurso.

Demóstenes, em 355/4 a.C., dá início à sua atividade política, com o primeiro discurso Contra a Lei de Léptines. Depois, sucederam outros discursos, tais como, Contra TimócratesPelos MegalopolitasPela Liberdade dos RódiosContra Aristócrates, Oração da Coroa etc. A Terceira Filípica, datada de 341, é a peça oratória mais bem elaborada. Nela o orador não se dirige apenas aos seus concidadãos, mas a todos os gregos que desejavam conservar a liberdade.

O que podemos extrair do seu exemplo? O primeiro ensinamento é que somente o trabalho é que enobrece o ser humano. Mostra-nos que, mesmo tendo dificuldades naturais, consegue pelo seu esforço, pela sua perseverança e pela sua constância vencer as suas inibições. Quantos de nós à primeira dificuldade, deixamos para trás os nossos objetivos mais caros, as nossas esperanças? Falar em público é uma tarefa que exige muita dedicação. Não nos deixemos vencer pelas primeiras impressões de desânimo.  

Falar todo mundo fala. Falar com polidez é qualidade de poucos, porque exige treino, determinação e perseverança. 

Fonte de Consulta

Demóstenes. As Três Filípicas: Oração sobre as Questões da Quersoneso. Introdução e Tradução de Ísis Borges B. da Fonseca. São Paulo: Martins Fontes, 2001. (Clássicos)

 

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