SUMÁRIO: 1. Introdução. 2.
Conceito. 3. Histórico. 4. Persuasão: 4.1. Os Três
Gêneros da Persuasão; 4.2. Diretriz Geral da Persuasão; 4.3. As Repetições. 5.
Retórica: 5.1. A Premissa Básica da Retórica; 5.2. A Elaboração de um Discurso
Pode Ser Dividida em Cinco Partes; 5.3. A Retórica Platônica Evidenciava a
Verdade. 6. Forma e Conteúdo: 6.1. O Sentido Pejorativo da Retórica; 6.2. Os
Pressupostos Espíritas; 6.3. A Missão do Espiritismo. 7. Conclusão. 8.
Bibliografia Consultada.
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho oferece-nos
subsídios para uma análise da nossa capacidade de expressão verbal e a
influência que o nosso discurso possa exercer sobre os ouvintes. Os sub-temas
são: a persuasão, a retórica e a questão da forma e do conteúdo.
2. CONCEITO
Persuasão –
Etimologicamente vem de "persuadere", "per + suadere".
O prefixo "per" significa de modo completo, "suadere"
= aconselhar (não impor). É o emprego de argumentos, legítimos e não legítimos,
com o propósito de se conseguir que outros indivíduos adotem certas linhas de
conduta, teorias ou crenças. Diz-se também que é a arte de "captar as
mentes dos homens através das palavras". (Polis – Enciclopédia Verbo da
Sociedade e do Estado)
Retórica – Em
sentido amplo, designava a teoria ou ciência da arte de usar a linguagem com
vistas a persuadir ou influenciar. Ainda podia significar a própria técnica de
persuasão. Em sentido restrito, alude ao emprego ornamental ou eloqüente da
linguagem.
Do grego rhetor =
orador numa assembléia. É a arte de bem falar, mediante o uso de todos os
recursos da linguagem para atrair e manter a atenção e o interesse do auditório
para informá-lo, instruí-lo e principalmente persuadi-lo das teses ou dos
pontos de vista que o orador pretende transmitir. (Pequena Enciclopédia de
Moral e Civismo)
3. HISTÓRICO
A arte da retórica nasceu na
Sicília, em meados dos séc. V a.C., quando a política dos tiranos cedeu lugar à
democracia. No mundo grego, a oratória veio a ser uma necessidade fundamental
do cidadão, que teria de defender seus direitos nas assembléias. Pouco a pouco,
começaram a surgir profissionais da retórica – os primeiros advogados
(gr. synegoros ou syndikos) –, que ainda não
representavam seus clientes na tribuna, mas orientavam os seus discursos,
quando não os escreviam totalmente, obrigando os clientes a decorá-los, para
realizar uma exposição correta e obter ganho de causa.
Naturalmente, o ensino da
dialética e os trabalhos dos sofistas no uso consciente da linguagem para
convencer sempre o opositor de suas idéias prepararam o campo de
desenvolvimento da retórica.
A arte da retórica foi
sistematizada por Aristóteles (384-322 a.C.) no tratado Tekne rhetorike (Arte
retórica), em que recomenda como qualidades máximas para o estilo a clareza e a
adequação dos meios de expressão ao assunto e ao momento do discurso.
Em Roma, houve também muitos
estudiosos da arte de falar em público. Citam-se Catão, Cícero e Júlio César.
(Enciclopédia Mirador Internacional)
Na primeira metade do século XX,
em razão do abuso tradicional das regras da Retórica, esta ganhou o sentido
pejorativo de arte de falar bem mas sem conteúdo, ou com o intuito escusos. Nos
últimos anos, mercê do progresso experimentado pelos estudos lingüísticos, a
Retórica voltou à ordem do dia, porém numa nova acepção: a pesquisa do discurso
literário, tendo em vista não a arte da eloqüência, senão as leis, normas e
"desvios" que regem a expressão do pensamento estético através da
palavra escrita.
4. PERSUASÃO
4.1. OS TRÊS GÊNEROS DA PERSUASÃO
Persuadir é gênero e compreende
três espécies, três modos de persuadir, a saber, convencer, comover, agradar.
Cícero chama de "Tria officia". A primeira se diz lógica, a
segunda afetiva, a terceira estética.
Convencer vem
de "cum + vincere" = vencer o opositor com sua participação. E
tecnicamente denota persuadir a mente através de provas lógicas: indutivas
(exemplos) ou dedutivas (argumentos). Assemelha-se ao docere (ensinar),
que é a tentativa de persuasão partidária no domínio intelectual.
Comover vem
de cum + movere persuadir através do coração. Pela excitação
da afetividade, a vontade arrasta o intelecto a aderir ao ponto de vista do
orador. Ethos (moral) é usar um grau de intensidade mais
suave. Movere (mover) é intensidade mais violenta,
correspondendo ao pathos (paixão).
Agradar corresponde
na terminologia latina a "placere" = agradar. Delectare (deleitar)
é a persuasão no domínio afetivo. (Tringale, 1988)
4.2. DIRETRIZ GERAL DA PERSUASÃO
O pressuposto básico da persuasão
é o amplificatio (amplificação). O nosso discurso deve
ampliar-se nas pessoas que nos ouvem. É como "captar as suas mentes"
para aquilo que queremos modificar. A veiculação de nossas palavras é uma
tentativa de mostrar que temos o conhecimento da verdade e queremos outros
partidários. Isto não significa fazer proselitismo, mas simplesmente expor sem
impor. Allan Kardec, o codificador do Espiritismo, aplicava esta técnica quando
tinha que dar explicações aos seus contraditores.
4.3. AS REPETIÇÕES
De acordo com as teorias de
comunicação de massa, a repetição tem a incumbência de estimular o desejo de
compra no consumidor. Para tanto, os técnicos em propaganda servem-se da teoria
do reflexo condicionado, descoberta por Pavlov. Cria-se um slogan (idéia força)
e, repete-se intensivamente, a fim de penetrar na mente do consumidor, no
sentido de direcioná-lo para a compra do seu produto.
O orador, consciente e lúcido,
deve evitar essa técnica, conhecida como lavagem cerebral. O correto é termos
ligação com a verdade dos fatos, mesmo porque, para haver persuasão, é preciso
haver credibilidade, pois a liderança social é essencialmente dinâmica e
criadora, sendo condição vital do líder o prestígio, que se alicerça nas
qualidades da persuasão.
5. RETÓRICA
5.1. A PREMISSA BÁSICA DA
RETÓRICA
Para haver persuasão, qualquer
que seja o discurso, é preciso haver credibilidade. Deve-se, entretanto,
distinguir a credibilidade da matéria em si da credibilidade atingida graças à
habilidade do orador.
"Tornar crível" vem a
ser, portanto, uma tarefa partidária do discurso.
5.2. A ELABORAÇÃO DE UM DISCURSO
PODE SER DIVIDIDA EM CINCO PARTES
1. Inventio (invenção)
é o ato de encontrar pensamentos adequados à matéria, conforme o interesse do
partido representado.
2. Dispositio (disposição)
é a escolha e a ordenação dos pensamentos, das formulações lingüísticas e das
formas artísticas para o discurso, sempre visando a favorecer a persuasão
partidária. Há liberdade, mas não completa arbitrariedade.
A dispositio divide-se
em:
a) a bipartição, que
opõe uma parte à outra, acentuando a tensão da totalidade;
b) a tripartição, que
acentua a linearidade, como estado completo, com princípio, meio e fim.
O meio refere-se à matéria
propriamente dita. Subdivide-se em:
a) numa parte instrutiva, propositio (proposição)
ou narratio (narração);
b) numa parte probatória, a argumantatio (argumentação).
A argumentação pode ser
subdividida em:
a) numa probatio (provação)
em que se prova o ponto de vista partidário;
b) numa refutatio (refutação),
em que se refuta o ponto de vista do partido adversário.
3. Elocutio (elocução)
é a expressão lingüística dos pensamentos encontrados pela inventio.
Traz em seu bojo o estilo e a gramática.
Puritas refere-se
à gramática correta e exige que a sintaxe seja idiomaticamente correta.
A hipérbole é a
substituição de um verbum proprium por outro que
exagere para além dos limites da credibilidade a idéia que se deseja realçar
4. Memoria (memória)
é a memorização de um discurso, o que também apresenta uma teoria, para
facilitar o trabalho do orador.
5. Pronunciatio (pronunciação)
é o ato de enunciação do discurso que engloba, além dos recursos vocais, a
métrica necessária. (Enciclopédia Mirador Internacional)
5.3. A RETÓRICA PLATÔNICA
EVIDENCIAVA A VERDADE
A "verdadeira
retórica", para Platão, nada mais é que o modo de levar e de transmitir a
verdade aos homens.
"Em especial, Platão,
no Fedro, quer tirar a retórica do nível das regras do falar com o
único objetivo de convencer o interlocutor jogando em ampla medida com a mera
opinião (o "considerar verdadeiro") para transformá-la na arte de
dizer a verdade. E justamente por isso quer fundamentá-la na dialética,
que é o único método capaz de chegar à verdade e exprimi-la de modo adequado.
A arte dizer, portanto, deve,
segundo Platão, basear-se nestes três pontos fundamentais:
1) deve conhecer a verdade acerca
do que se deseja falar;
2) deve conhecer a natureza da
alma em geral e especialmente das almas às quais se dirige para poder
convencê-las de modo adequado;
3) deve ter a consciência da
natureza e do alcance dos meios de comunicação, especialmente a diferença entre
escrita e oralidade." (Reale, 1999, p. 251)
6. FORMA E CONTEÚDO
6.1. O SENTIDO PEJORATIVO DA
RETÓRICA
Como vimos anteriormente, na
Antiguidade clássica, a palavra retórica era usada exclusivamente para a
disseminação da verdade. No decurso do tempo, acabamos exercitando mais a forma do
que o conteúdo, o que nos propiciou maior preocupação com o malabarismo da voz
e dos gestos do que com o tema em si mesmo.
Observe a propaganda política dos
nossos dias: promete-se além daquilo que se pode cumprir; enfatiza-se o lado
emotivo; cria-se um salvador da pátria. Mas, quando estão no poder, acabam
fazendo o que os seus antecessores faziam.
6.2. OS PRESSUPOSTOS ESPÍRITAS
O orador espírita deve ter, em
primeiro lugar, a preocupação de conhecer o Espiritismo, donde extrairá o
conteúdo doutrinal das suas exposições. Muitos oradores tornam-se "falsos
profetas", porque se deixaram guiar pela vaidade e pelo orgulho. Querem a
todo o momento estar fazendo preleções nos diversos Centros Espíritas, mas sem
a devida pesquisa e estudo do tema.
Para que tenhamos conteúdo em
nossas apresentações, é preciso debruçar o pensamento sobre as obras espíritas,
principalmente aquelas trazidas por Allan Kardec. Como transmitir uma doutrina
se não a estudamos? Como ter o partido do nosso lado, se não sabemos o que este
partido defende?
Lembrete: a
absorção da Doutrina Espírita não pode ser obra de um dia. É um trabalho árduo
que, quando começado, não tem mais volta, pois sempre teremos uma nova maneira
de ver e de abordar o mesmo assunto.
6.3. A MISSÃO DO ESPIRITISMO
A missão do Espiritismo é
consolar, esclarecer, levar esperança aos que sofrem e erram. Não é aguçar o
sofrimento de quem já vive em verdadeiro drama de consciência.
A maneira (forma) de comunicar a
Doutrina Espírita é também sumamente importante, mas não o essencial.
Allan Kardec, o bom senso
encarnado, tinha o máximo cuidado de não ofender as almas ainda ignorantes do
mundo espiritual. Por isso, pregava sempre a liberdade de ação, deixando que o
seu interlocutor tomasse a sua própria decisão.
7. CONCLUSÃO
Esforcemo-nos por adquirir novas
técnicas de comunicação. Contudo, não nos esqueçamos de concentrar as nossas
forças e as nossas energias na propagação correta do que seja o Espiritismo.
8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
ÁVILA, F. B. de S.J. Pequena
Enciclopédia de Moral e Civismo. Rio de Janeiro: M.E.C., 1967.
ENCICLOPÉDIA MIRADOR INTERNACIONAL. São Paulo: Encyclopaedia Britannica, 1987.
POLIS - ENCICLOPÉDIA VERBO DA SOCIEDADE E DO ESTADO. São Paulo: Verbo, 1986.
REALE, Giovanni. O Saber dos Antigos: Terapia para os Dias Atuais.
Tradução de Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Loyola, 1999.
TRINGALE, D. Introdução à Retórica: A Retórica como Crítica Literária. São
Paulo: Duas Cidades, 1988.
São Paulo, dezembro de 2003