28 novembro 2025

Todo Mundo Devia Escrever (Notas de Livro)

Título: Todo Mundo Devia Escrever: a Escrita como Disciplina de Pensamento

Autor: Georges Picard

Tradução: Marcos Marcionilo

PICARD, Georges. Todo Mundo Devia Escrever: A Escrita como Disciplina do Pensamento. Tradução de Marcos Marcionilo. São Paulo: Parábola, 2008.

Para mim, que considero a palavra embaraçada, habitualmente hesitante, excepcionalmente explosiva e excessiva, um pensamento rico ou sutil não pode encontrar uma forma adequada fora da escrita.

Escrever para pensar, mais do que pensar para escrever: estranha inversão de prioridades nos domínios didáticos, mas, me parece, posicionamento natural em literatura.

Todo mundo devia escrever para si mesmo, na concentração e na solidão: um bom meio de saber aquilo que se sabe e de entrever aquilo que se ignora sobre o mecanismo do próprio cérebro, sobre o próprio poder de apreensão e de interpretação dos estímulos externos.

“Quando não posso caminhar, leio; não posso ficar sentado refletindo.” (Charles Lamb)

Inclinado sobre sua página, todo escritor é narcísico. A escrita é o mais ambíguo e mais sedutor dos espelhos.

A relação dialética entre ideias contrárias impõe uma ginástica mental da qual nunca me livro sem um incômodo.

O que há de mais belo na escrita é a tensão entre o que está escrito e o que há por escrever, é o uso de uma liberdade que assume todos os riscos ao imprimir sua marca.

Na dialética sublimada do taoísmo, que sabe que o ferro é tanto mais cortante quanto mais flexível for.

Edgar Allan Poe tinha “uma obsessão inconsciente por relógios”, descoberta inicialmente em The Devil in the Belfry, depois em Corvo, em A máscara da morte vermelha, em The Pit and the Pendulum... em síntese, diz ele: “De repente, dou-me conta de que a hora e o relógio estavam em todos os lugares”.

Aos olhos de pessoas excessivamente inescrupulosas, que não podem fazer um movimento em jogar tudo por terra, atravessar a vida sem nada disputar é uma grande vantagem.

Ninguém consegue me demover da ideia de que, passado certo nível de profundidade, as notas valem mais do que as palavras e que determinada quantidade de silêncio toca mais o fundo das coisas que os mais belos discursos.

Escrevo para me essencializar, vivo para me acidentar.

 



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