Título: De Onde Vêm as Palavras. São Paulo
Autor: Deonísio da Silva
São Paulo: A Girafa, 2004. (Coleção o mundo são palavras)
Adoração: do latim adorationis, genitivo de adoratio,
ato de adorar, adoração. A formação desta palavra remonta ao latim oris,
boca, e à preposição ad, junto, em direção a. O gesto significa,
pois, levar algo à boca. Em seus primórdios, o ato de adoração consistia em
levar a mão à boca e, com o braço estendido, jogar um beijo à divindade. Além
deste gesto, havia ainda a prosternação e a genuflexão, mas os cristãos
cultivaram mais este último.
Alcorão. Do árabe al-qur'an, a leitura, isto é, a melhor leitura que se pode fazer. Segundo os muçulmanos, o Alcorão, cuja variante é Corão, foi ditado pelo anjo Gabriel ao profeta Maomé, entre os anos de 612 a 632, em Meca e em Medina. À semelhança da Bíblia, é dividido em capítulos, chamados suratas, e versículos.
Alcova. Do espanhol alcoba, radicado no árabe al-qúbba,
cúpula. No espanhol, como no português, passou a designar pequeno quarto de
dormir, junto a uma sala ou a outro quarto maior.
Anta: do árabe lamta,
pelo espanhol ante, designação do mamífero da América do Sul que
pode atingir até dois metros de comprimento e um metro de altura. Antigamente
era sinônimo de pessoa sagaz, esperta, mas a gíria consolidou o vocábulo como
sinônimo de tolo.
Apostila: do latim post illa, cuja expressão completa no latim
escolástico é post illa verba auctoris, significando 'depois
daquelas palavras do autor'. As apostilas são, hoje, uma das dez pragas do
sistema escolar ao lado das cópias em xerox de capítulos de livros. Em vez de
ler as bibliografias pertinentes, os alunos são levados a ler apenas resumos,
esquemas, sinopses, não raro com erros graves, até mesmo de transcrição.
Inverteu-se, pois, a função primordial da apostila. De anotações feitas depois
das aulas, passou a substituir as próprias palavras do professor, sendo
distribuídas no começo dos cursos, antes ainda da primeira aula.
Arrepender. Do latim repoenitere, sofrer por erros cometidos. Verbo
muito presente nos textos bíblicos que pregam o arrependimento dos pecados.
Dificilmente é conjugado no intransitivo. A personagem-símbolo do
arrependimento é santa Maria Madalena, habitada por sete demônios, uma
verdadeira corporação. Pecadora contumaz, foi reabilitada com a seguinte
justificativa evangélica: "Muito lhe foi perdoado porque muito amou".
Morreu em Éfeso, onde era vizinha de Nossa Senhora e de São João.
Artigo: do latim articulu, originariamente objeto de negócio,
item. Depois passou a designar partes constitutivas de um contrato comercial.
Daí veio a integrar os grandes contratos sociais que são as constituições com
seus artigos e parágrafos.
Aula: do grego aulé,
palácio, corte, e do latim aula, corte, sala de palácio. Passou a
designar o ato de ensinar porque as primeiras escolas funcionavam em prédios
anexos aos palácios e residências oficiais de autoridades civis ou religiosas.
O termo áulio tem a mesma origem.
Babaca: redução de babaquara, do tupi mbaebé, nada,
e cuaá, saber, e ara, sufixo que indica ajuste,
significando aquele que não sabe nada, o bobo. Por preconceito urbano contra
gente do interior, passou a sinônimo de caipira, tido por tolo.
Besta. Do latim tardio besta, vindo do latim culto bestia,
ambos designando animal quadrúpede capaz de transportar cargas que os ombros
humanos não podiam ou não queriam carregar. Logo passou a ser usado em sentido
conotativo para ofender os ignaros, à semelhança de um de seus sinônimos,
burro. É também marca de um dos carros utilitários mais vendidos no Brasil, mas
neste caso sua etimologia é outra, tendo derivado de best, o
superlativo de gut, bom, em alemão.
Besteira. De besta, do latim tardio besta, e o sufixo eira,
que ao ser agrupado faz com que seja excluído o "a". No latim culto
é bestia. A palavra está em nossa língua desde o século XIII com o
significado de ato ou expressão própria a animais irracionais e por isso
inadmissível no homem. Os políticos lideram a produção de besteiras no Brasil,
talvez porque o que muitos deles dizem e escrevem repercuta na vida dos
cidadãos, ao passo que a besteira de bares e ruas é em geral inofensiva. E
quanto menor o município, parece maior a besteira. O jornalista Sérgio Porto,
conhecido como Stanislaw Ponte Preta, organizou uma série de livros
intitulados Febeapá (Festival de Besteiras que Assola o
País), em que registrou algumas das maiores bobagens nacionais, várias
delas muito divertidas. Ex.: Em Recife (PE) houve tempo em que o toque de
buzina nas zonas de silêncio resultava em multas de duzentos reais, cobrada
pelo próprio guarda que flagrava o infrator. Mas houve inédito acerto de
cobrança de uma delas. Como só tivesse uma nota de mil cruzeiros e o guarda não
tivesse troco, o infrator foi autorizado a dar mais quatro buzinadas.
Bookmaker. Indica banqueiro ou casa de apostas.
Brioche: do francês brioche, bolo de massa fermentada, com manteiga
e ovos. Durante a Revolução Francesa, a rainha Maria Antonieta, muito impopular
por ser inimiga de reformas econômicas, políticas e sociais indispensáveis,
aconselhou o povo, que se queixava da falta de pão, a comer brioches, um
alimento mais refinado. Pagou caro a ironia, pois foi executada depois que os
queixosos, não conseguindo as reformas pretendidas, fizeram uma revolução que
mudou a França e o mundo.
Busílis: tudo indica que este vocábulo tenha vindo de um engano cometido por um
estudante de latim, que ao traduzir a frase latina in diebus illis (naqueles
dias), teria separado o vocábulo diebus em die e bus,
depois não teria conseguido explicar o resto que lhe seguia, illis.
Como traduzira in die como índias (indiae), encontrou
grande dificuldade em prosseguir, empacando no bus illis. Outros
creditam o mesmo erro a um clérigo que, lendo o breviário, encontrou ao final
da última linha de uma página in die e no começo da seguinte a
constituçãobus illis. Busílis virou então em português, sinônimo de
grande dificuldade. "Aí é que está o busílis da questão" tornou-se
frase frequente entre nós.
Cacoete: do grego kakoethes, doença, mau hábito, pelo latim cacoethe.
Designa tique que se manifesta pela contração involuntária e repetida de
músculos do corpo. Em sentido figurado, indica mania, sestro, palavra, frase ou
expressão embutidos com frequência na conversação. Ajeitar o colarinho amiúde,
sacudir a cabeça e piscar desordenadamente os olhos são formas de cacoetes,
também denominados tiques. O cacoete pode ser sintoma de psicastenia, palavra
de origem grega significando fraqueza mental.
Ceita: de Ceuta, cidade da África. Quando da famosa batalha que resultou em
sua tomada, em 1415, o rei português Dom João I mandou cunhar moeda
comemorativa. A cidade fora antigamente denominada Ceita. Um ceita valia dez
réis e era este o tributo pago para quem nao quisesse servir na África. Posteriormente
o vocábulo evoluiu para ceitil.
Clone: do grego klón, broto. Designa membro de uma espécie
originado de outro por multiplicação em que foram dispensados o pai e a mãe,
como aconteceu com Dolly, a ovelha criada pelo embriologista britânico Ian
Wilmut. O que o escritor inglês Aldous Huxley previu em seu romance Admirável
Mundo Novo começa a acontecer. Entre 2001 e 2002 fez muito sucesso
pela TV Globo a novela O Clone, de autoria de Gloria Perez, que deu
especial destaque nas tramas aos experimentos que visam clonar um ser
humano.
Conceito: do latim conceptus, conteúdo, o que está contido,
está dentro, como o feto no ventre de quem concebeu, o fruto na árvore, o
sentimento no coração ou o juízo na cabeça. Conceito é palavra muito utilizada
nas ciências humanas para designar definições ou categorias, provavelmente
aproveitando significado vigente na linguagem coloquial por meio de expressões
como "fulano tem bom conceito", valendo dizer que é tomado como boa
pessoa por todos ou pela maioria, vez que como definiu Nelson Rodrigues:
"Toda unanimidade é burra".
Conflito. Do latim conflictu, conflito, choque, luta, bater uma
coisa em outra. Sua formação alude também ao particípio conflectum,
do verbo conflere, chorar junto. Conflitos por demarcação de terras
começam e terminam com choros em coro, divididos como as terras, entre as
partes em luta. Quando não demarcações legais, vence o mais forte e os
desfechos costumam ser trágicos.
Craque: do inglês crack, vocábulo utilizado originalmente no turfe
para designar o melhor cavalo, crack-horse, que migrou para o
futebol e tem servido para indicar aqueles jogadores, em geral goleadores, que
se distinguem por seu desempenho, sempre acima da média.
Crase: do grego krâsis, mistura, temperamento. Pode referir a
constituição do caráter de uma pessoa ou ainda o equilíbrio de certos líquidos
orgânicos. Porém o vocábulo é mais conhecido para designar a fusão habitual de
duas vogais, como no título de um célebre romance do escritor francês, de
ascendência judaica, Marcel Proust À Sombra das Raparigas em Flor,
ou em frases mais prosaicas como "Vamos à cidade". Nos dois casos foi
posta a crase para que a vogal não fosse repetida. A crase é um dos mais
temidos terrores de quem tem dúvidas de gramática.
Crise: do grego krisis, pelo latim crisis, formas
originais que levaram ao português crise. O Dicionário Etimológico de
Antenor Nascentes dá também os significados de momento decisivo separação e
julgamento. Há consenso entre diversos outros pesquisadores de que a crise leva
à ruptura com o estado anterior. O novo rumo tomado pode ser de melhora ou
piora, tanto em medicina com em sociologia, onde o vocábulo é muito usado. A
julgar por novos cientistas sociais e economistas, o Brasil está em crise desde
o descobrimento.
Dantesco: nomes de grandes escritores costumam ser utilizados como adjetivos. Um
quadro dantesco alude a Dante Alighieri, um dos maiores poetas de todos os
tempos, autor de A Divina Comédia, em que foram descritos e
narrados, com muita força dramática, os horrores do inferno, num dos cantos do
poema. Dante nasceu em Florença, em 1265, e morreu em Ravena, aos 56 anos, uma
idade avançada para a época, e logo virou adjetivo.
Debate: do inglês debate, debate, discussão. No debate são
alegadas razões a favor e contra determinado tema. Mas antes de ser prática
parlamentar e acadêmica, designou poema dialogado, de tom satírico e alegório,
muito em voga na Idade Média. O folclore parlamentar brasileiro registra
curioso debate entre dois deputados. Ao ouvir de um colega que ele estaria
sendo um verdadeiro purgante, o outro replicou: "E Vossa Excelência é o
efeito".
Demônio: do latim daemoniu, tendo vindo do grego daimónion,
ente sobrenatural, tido por gênio do bem ou do mal, mas que depois se fixou
apenas no segundo sentido. Apesar de o demônio ser masculino, há uma exceção, a
demônia Lilith, a primeira esposa de Adão. Depois de dar-lhe muitos filhos,
Lilith, talvez por falta de opção - havia um único homem na face da terra -
juntou-se ao demônio Samael. Esta tradição judaica é comentada no famoso livro
de Giovanni Papini, O Diabo: "Os antigos hebreus, talvez na
esperança de fazer perdoar mais facilmente a Eva o seu pecado, contaram que
antes dela Adão tivera uma outra esposa, Lilith". O demônio costuma estar
em muitos lugares, mas às vezes resolve morar numa pessoa. É quando precisa ser
exorcizado, pois é muito mandão e leva seus hospedeiros a praticar todo tipo de
safadezas. O poder de expulsar demônios é muito valorizado. Se os congressistas
o tivessem, poderiam dispensar as CPIs, já que o dom da expulsão estende-se ao
da identificação, do contrário o exorcismo seria impossível.
Deputado: do latim deputatu, enviado a alguma missão. Em latim deputare significou
inicialmente podar, separar e, por fim, o sentido que hoje tem, de indivíduo
que trata de interesses de outros.
Diálogo: do grego diálogos, que os romanos adaptaram para o
latim dialogu. Aplica-se a várias situações: numa conversa, com o
fim de buscar-se o entendimento; nos romances, filmes e peças de teatro,
indicando as falas dos personagens. É também muito utilizado em política
internacional. A palavra polida deve ser a única arma do diálogo, mas de vez em
quando algumas pessoas usam outros reforços, como gritos, gestos abruptos,
socos, pontapés, empurrões e, quando tudo falha, facada e tiros.
Diploma: do grego diploma, documento oficial expedido em duplicata.
No latim conservou a mesma forma, daí vindo para o português. Originalmente era
uma peça de bronze, formando um díptico, segundo ensinava Antenor Nascentes.
Atualmente são documentos que comprovam a obtenção de um título. É neste
sentido que recebem diplomas tanto os formandos de um curso superior como os
eleitos para cargos políticos.
Divulgar: do latim divulgare, fazer com que também os vulgos fiquem
sabendo o que já sabe a gente fina e culta. Com o tempo, o verbo tornou-se
sinônimo de difundir, proclamar, anunciar, perdendo a antiga conotação, vez que
a galáxia Gutenberg democratizou a informação.
Docente: do latim docente, docente, aquele que ensina. Seu
significado primitivo é ensinar a aprender, o que parece uma tautologia. Os
primeiros docentes atuaram em adestramento militar, preparando os soldados para
a guerra. Depois é que o vocábulo migou para a sala de aula, antes, porém,
passando por outras significações de domínio conexo, de onde vieram palavras
como dócil e docilidade, designando quem aprende com facilidade e dando-lhe a
respectiva qualidade.
Escândalo: do grego skándalon, pedra que faz tropeçar. Passou ao
latim como scandalu e conservou o mesmo significado na versão
latina da Bíblia, tal como aparece no livro do profeta Isaías 8,14. Os grandes
escândalos de nosso tempo privilegiam a política e a sexualidade, sendo tanto
maiores quanto maior é a fama dos envolvidos. A Inglaterra produz tais
escândalos com frequência, às vezes na própria casa real, outras vezes entre os
súditos, como ocorreu com os atores Hugh Grant e sua namorada Elizabeth Hurley,
cujo amor ele trocou por alguns momentos com uma prostituta chamada Divine
Brown. Enquanto ele cuidava em desvencilhar-se das acusações da polícia de Los
Angeles, que o flagrara, as duas faziam sessões de fotos para revistas
especializadas, ganhando milhares de dólares. Foi um escândalo que deu lucro
para todos os envolvidos.
Escandaloso: latim scandalosus, derivado de scandalu,
radicado no grego skándalos. No português, escândalo alterou o
significado que tinha nas duas línguas, em que designa pedra que faz tropeçar,
tomando o significado de ação vergonhosa, reprovável. E escandaloso adquiriu o
sentido de comportamento imoral, indecoroso, aplicando-se a gestos, falas e
comportamentos que indicam mau exemplo ainda que haja controvérsias, como
ocorreu com os escândalos de Ana Jacinta de São José, mais conhecida como dona
Beja. Órfã de mãe aos 12 anos, foi criada por parentes na localidade onde hoje
fica Araxá, em Minas Gerais. Adolescente de grande beleza e inteligência atraiu
a atenção de muitos homens que iam à região em busca de ouro e diamantes. Mas a
joia mais rara era Beja, que aos 15 anos conheceu num baile o ouvidor, então
cargo de grande importância na administração pública brasileira, Joaquim Inácio
Vieira da Mota. Maior autoridade no local, mandou raptá-la para viver com ele.
Beja acumulou grande riqueza. Entre suas economias, passou a contar com 10
litros de ouro em pó, 41 barras de ouro, uma sacola de joias e uma jarra
repleta de diamantes. Quando o marido deixou Paracatu do Príncipe, indo para a
Corte, Beja não o acompanhou e preferiu volta a viver em Araxá. A elite local,
que a considerava escandalosa, recebeu farta munição para falar mal de Beja
quando ela foi levada a julgamento, no dia 4 de dezembro de 1837, acusada de
ter encomendado a morte do ex-amante. Absolvida, Beja conheceu nas comemorações
da absolvição o garimpeiro Guimarães Bastos. Já com 37 anos, casou-se com ele,
tendo vivido juntos por 25 anos. Quando ele faleceu, em 1875, Beja vendeu o
garimpo e recolheu-se à casa da filha Joana, tendo falecido cinco anos depois,
aos 80 anos. A atriz Maitê Proença fez o papel da protagonista numa telenovela
de muito sucesso, Dona Beja: a Dama de Araxá, exibido pela TV
Manchete em 1986.
Escol. Redução de escolha, por sua vez formada a partir de escolher, do
latim excolligere, joeirar, dar preferência, escolher.
Designa elite, grupo ou estamento de destacada posição social, cultural ou
profissional.
Escorchante: do espanhol escorchar, tirar a pele ou o couro, formou-se
escorchar, de que se formou escorchante. Tem sido utilizado para qualificar as
taxas de juros vigentes hoje no Brasil. Numa economia que estabilizou a moeda,
os consumidores estão pagando juros mensais 100 por cento superiores às taxas
anuais do sistema financeiro internacional. Antes, os que tomavam empréstimos
bancários eram apenas tosquiados, mas agora são submetidos à ação descrita pelo
vocábulo em origem espanhola.
Fraternidade: do latim fraternitate, declinação de fraternitas,
fraternidade. No dia primeiro de janeiro comemoramos o Dia da Fraternidade
Universal e o Dia Mundial da Paz. As duas celebrações pressupõem que, sendo
todos irmãos, os homens deveriam viver em paz uns com os outros. E a Revolução
Francesa fez da fraternidade um de seus três lemas. Os outros dois são
liberdade e igualdade.
Gângster: do inglês, gangster, membro de uma gang,
bando que pensa e age de forma cooperativa, visando fins criminosos. Costumam
disfarçar muito bem os crimes que praticam, mas às vezes são apanhados pelo
Imposto de Renda, tal como aconteceu a um dos mais célebres, Al Capone. No
Brasil, ao que tudo indica, a forma evoluiu para o soft gangster -
aquele que, na maciota, extorque dinheiro de empresários, sem usar arma branca
ou arma de fogo, apenas a lábia, com o fim de liberar favores governamentais
cujos resultados pecuniários serão infinitamente maiores do que as propinas
solicitadas.
Genro: do latim generu, marido da filha em relação aos pais dela.
Sua etimologia latina remete a gens, genis, indicando
que um novo homem veio fazer parte da família, não por nascimento, mas por
arrebatar o coração da moça. Ao declarar suas intenções, entretanto, o futuro
genro pede a mão apenas e não a moça inteira, de acordo com a expressão
consagrada ao longo dos séculos, que leva o namorado a pedir ao futuro sogro a
mão de sua filha, um dos passos do noivado rumo ao casamento.
Guerra. Do antigo alemão werra, discórdia, peleja. A independência
dos Estados Unidos foi obtida em célebre guerra travada pelas 13 colônias
contra o Reino Unido, que culminou com a Declaração de Independência,
proclamada em 4 de julho de 1776.
Hegemonia: do grego hegemonía, originalmente domínio de uma cidade ou
de um povo sobre outro. Passou a significar outros tipos de domínio,
constituindo-se em termo clássico para análise das sociedades modernas,
marcadas por hegemonias nos mais diversos campos, principalmente econômicos,
políticos e ideológicos. Mas a ideia de domínio evoluiu para vocábulos de
significação mais amena, como liderança e responsabilidade, sendo, pois a
hegemonia, não apenas imposta, mas consentida, como está acontecendo hoje no
mundo com a supremacia dos Estados Unidos.
Heresia: do grego hairesis, escolha pessoal, divergente da doutrina
oficial. No século IV, um padre de Alexandria chamado Ário, cristão convicto,
passou a negar a divindade daquele menino nascido em Belém. O imperador
Constantino convocou um concílio em sua própria residência, em Niceia, e exigiu
um acordo na definição da fé cristã, pois as heresias ameaçavam a coesão do
Império, por ele reunificado. Ário foi banido, mas sua seita prosperou e o
próprio imperador, às vésperas da morte, pediu para ser batizado por um bispo
ariano.
Hífen: do grego hyphen, em um só corpo. O vocábulo veio para a
nossa língua designando o sinal diacrítico utilizado em palavras compostas, em
formas verbais que unem pronomes átonos e na separação de sílabas nos finais
das linhas. Neste último caso, com o avanço da informática, a escrita passou a
ser feita nos computadores, que podem diagramar um texto inteiro sem separar
nenhuma sílaba por hífen. Mas o hífen entrou na ordem do dia quando passou a
ser um dos pomos da discórdia ortográfica nascida do novo acordo que está sendo
negociado entre países lusófonos. Alguns países querem aboli-lo, enquanto
outros preferem mantê-lo.
Hóstia: do latim hostia, vítima. Eram vítimas preferidas, nos
sacrifícios antigos, pequenos animais como ovelhas, bodes e porcos, ao lado de
aves como pombos e gatos. A hóstia utilizada até hoje nas missas, feita de pão
de ázimo, recebeu este nome devido à teologia católica, que considerava Jesus
Cristo uma vítima levada ao sacrifício.
Hostilidade: do latim hostilitate. De acordo com a etimologia, vem
de hostis, inimigo, mas também estrangeiro, forasteiro, aquele que
deveria ser combatido, perseguido e, quase sempre, também morto. A raiz está
presente na palavra hóstia, que deriva de hostia, vítima, animais
ou homens, nem sempre inimigos, oferecidos em sacrifício aos deuses. "O
escritor que não provoca hostilidade, está morto." (V. S. Naipaul)
Humildade: do latim humilitate, declinação de humilitas,
humildade, baixeza. A etimologia indica que a humildade é coisa apegada
ao humus, chão. A doutrina cristã tornou virtude o que era
considerado pejorativo. Por isso, Jesus adverte nos Evangelhos que "Quem
se humilha, será exaltado, e quem se exalta, será humilhado".
Intolerância: do latim intolerantia, intolerância, natureza ou qualidade
do que é insuportável, insolência. A humanidade praticou muitas intolerâncias
ao longo da história, notadamente étnicas, religiosas, filosóficas, sexuais. O
mais paradoxal é que muitas das vítimas das diversas intolerâncias pagaram
muitas vezes com a própria vida os preconceitos que as vitimaram, como ocorreu
ao matemático inglês Alan Mathison Turing. Homossexual assumido, é considerado
um dos pais dos modernos computadores e integrou a equipe que decifrou a
sofisticada rede de códigos utilizada pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial.
Em 1952, foi condenado a tomar injeções para diminuir a libido. Sentindo-se
ofendido e humilhado, suicidou-se comendo uma fruta que embebera com cianeto.
Escolheu uma maçã que, tal como a do paraíso, trouxe-lhe a morte, só que mais violenta
e mais rápida.
Inveja: do latim invidia, vontade de não ver, despeito, inveja.
Era também o nome de uma deusa do mal, filha da Noite. Era representada com a
cabeça cheia de serpentes, olhos vesgos, soturnos e ameaçadores, a testa
lívida, tendo víboras nas mãos, uma delas roendo-lhe o seio. Parece que os
antigos faziam imagem muito apropriada deste sentimento nocivo que tantos
prejuízos deu à humanidade, no varejo e no atacado, de que é exemplo o motivo
do primeiro crime bíblico, quando Caim mata seu irmão Abel. Nas narrativas do
primeiro milênio, é frequente a presença de Eva lavando as roupas
ensanguentadas do filho assassinado.
Invejoso: do latim invidiosus, que tem inveja. A inveja é um dos
sete pecados capitais. Os outros seis são a avareza, a gula, a ira, a luxúria,
o orgulho e a preguiça. A relação foi elaborada na Idade Média e pegou de tal
forma que ainda hoje é brandida contra os pecadores. O jornalista Zuenir
Ventura achou que dentre os sete, o pior era o da inveja. E escreveu o livroInveja,
o Mal Secreto. É difícil defender-se da inveja. O invejoso não deseja nada
de bom para si mesmo. Deseja apenas que você seja derrotado, caia em desgraças,
se dê mal, enfim, porque é incapaz de admirar quem quer seja.
Ironia: do grego euróneia, pelo latim ironia, ironia,
modo de expressar o contrário do que se pensa ou sente. É figura de linguagem
de uso recorrente em quase todos os grandes escritores. O filósofo Sócrates,
grande professor da humanidade, que hoje não lecionar em universidade nenhuma
por falta de titulação e ausência de publicações, já que não deixou livro
algum, utilizava a ironia como recurso pedagógico, levando o aluno a reconhecer
a própria ignorância, coisa que está difícil de ser obtida hoje em dia por
qualquer mestre. Já o escritor espanhol Jorge Semprún faz com que um personagem
assim se dirija a um oponente: "Companheiro, permita-me que lhe faça sua
autocrítica!".
Jacobino: do latim jacobus, pelo francês jacobin. Quando
irrompeu a Revolução Francesa, um grupo de deputados, nacionalistas exaltados,
instalou-se no convento dos monges jacobinos, situado à rua Saint-Jacques.
Desde aquela época, jacobino se transformou em adjetivo para qualificar
revolucionários extremistas.
Judas: do antropônimo famoso de um dos apóstolos. Falso, traidor.
Interpretações modernas porém, documentais ou literárias e artísticas, resgatam
outra imagem para o caixa da campanha de Jesus. Nessas versões, Judas não
traiu, mas foi traído, como é o caso do romance O Evangelho Segundo
Judas, do escritor brasileiro contemporâneo Sílvio Fiorani: Beijar é ato de
amor, mas também de servidão, domínio, posse, conforme o caso. Descontado os
anônimos, muitas figuras famosas foram traídas ou enganadas por beijos no
decorrer da História, apesar de o exemplo mais clássico ser justamente o Beijo
dado por Judas em Jesus, no Jardim das Oliveiras sobre o qual há tantas
discordâncias.
Karaokê: do japonês karaokê, espaço vazio. Designa casa noturna
onde qualquer cliente pode cantar acompanhado de músicos da casa ou de trilha
sonara que não foi feita para aquela situação. O espaço vazio, no caso, é
preenchido pelo canto dos improvisados cantores.
Lei: do latim lege,
declinação de lex, lei. Somos um país com muitas leis, divididas
entre as quais pegam e as que não pegam. Há uma lei que é chamada Lei Áurea
porque foi assinada pela princesa Isabel, a Redentora, com sua caneta de ouro,
no dia 13 de maio de 1888, depois de aprovada no Senado, com apenas um voto
contra. Na Câmara, no dia anterior, passava com 9 votos contrários. É a lei
mais concisa que Brasil já teve: "Art. 1.º: É declarada extinta a
escravidão no Brasil; art. 2.º: Revogam-se as disposições em contrário".
Luxo: do latim luxu,
luxo, excesso. Passou a designar modo de vida por excessivo consumo de
supérfluos, satisfação exagerada dos prazeres e gosto por ostentação. Na antiga
Roma, Faustitas era deusa da fecundidade dos rebanhos. E faustulus era o nome
do pastor que acolheu Rômulo e Remo, os fundadores da cidade. Na etimologia
latina faustus, fausto, sinônimo de luxo, diz respeito à
prosperidade, mais que aos gastos excessivos.
Luz: do latim luce,
declinação de lux, luz. A luz é sempre usada em boas metáforas,
incluindo as religiosas. Deus e os santos aparecem em meio a luzes brilhantes.
Nem falta uma espécie de chapéu de luz em imagens de muitos deles. Textos
judaicos e cristãos aludem com frequência à figura de Deus como cheia de luz,
incapaz de ser suportada por olhos humanos.
Marajá. Do sânscrito maha-rajá, com "erre" forte, grande
rei. No Brasil, passou a indicar aqueles funcionários públicos, que através de
trambiques e contorcionismos legais, mas ilegítimos, passaram a aumentar seus
próprios salários e ganhos indiretos em quantias escandalosas.
Medo. Do latim metu,
medo, causador de cuidados, vocábulo que está na raiz de palavras aparentemente
dissociadas, como médico, remédio, remediar, irremediável. Nada parece infundir
mais medo do que o terrorismo. Para combater desafetos, os terroristas já não
alvejam diretamente os seus inimigos ou inimigos de quem lhes financia as
ações. Ao contrário, estão empenhados ema atacar inocentes com o fim de
prejudicar terceiros.
Mídia: do latim media, plural de medium, meio. Passou
a designar o conjunto dos meios de comunicação social, como o jornal, a
revista, o rádio, o cinema e a televisão. Para chegar à língua portuguesa,
entretanto, fez escala no inglês, cristalizando-se a deformação da pronúncia na
escrita. Nossos gramáticos aceitaram a submissão ao erro prosódico,
registrando-o tal como era pronunciado nos Estados Unidos. E assim passamos a
pronunciar e a escrever arrevesadamente um vocábulo que em sua origem latina
estava mais próximo de nossa língua.
Ministro. Do latim ministru, criado, servo. Aquele que executa
ordens recebidas. Depois, melhorando de sentido, a palavra passou a designar os
altos funcionários do Estado, membros do Poder Judiciário etc. Indica também o
encarregado de alguma função religiosa. Os ministros da República não têm
estabilidade, e são demissíveis ad nuttum, isto é, sem nenhuma
explicação, apenas pela vontade de uma das partes: aquele que os nomeou.
Oráculo. Do latim oraculu, resposta que os antigos deuses davam
àqueles que os consultavam. Tais respostas eram, porém, fornecidas por meio de
curiosos sinais. Se ao deixar o templo encontram um ancião, um menino ou uma
linda jovem, o fiel dava à visão um significado divino, diretamente ligado à
consulta que acabara de fazer. Hoje, oráculo é metáfora de político muito
consultado por seus colegas. Neste caso, os sacrificados costumam ser o
eleitor, o contribuinte e outras figuras que habitam o cidadão brasileiro.
Orador. Do latim oratore, declinação de orator, que
fala, isto é, usa a oris, genitivo de os, boca. O latim
baseou-se no sânscrito or, boca. Este foi o étimo original de
palavras como oral, orador, oração, ósculo, oráculo, oratório, adorar e outros.
Com instituições políticas já consolidadas para que impérios e Estados
soberanos pudessem se relacionar, foi criada a figura do orator na
antiga Roma para designar aquele cuja ferramenta de trabalho é a palavra
falada. O orador latino tanto podia ser o parlamentar, como o embaixador, o
tribuno, o cônsul, o general ou o próprio imperador, isto é, a função era exercida
no Legislativo, no Judiciário e no Executivo.
Orar. Do latim
medieval orale, de viva voz, verbal, baseado em oris,
genitivo de os, boca. Os romanos tinham uma expressão sofisticada,
hoje erudita, para designar quem caia na boca do povo: esse in ore
omnium, estar na boca de todos. Quando as escolas eram melhores, o exame
oral era o terror dos alunos. Criaram-se lendas em volta da prática, como a que
foi atribuída ao célebre humorista barão de Itararé. Em prova oral do curso de
medicina, o professor pergunta: “Quantos rins nós temos?” “Quatro”, o barão.
“Quatro”, debocha o mestre ranzinza. E, para tripudiar sobre o aluno, pede ao
monitor: “Traga um feixe de capim”. “E para mim um cafezinho”, diz o
examinador. O aluno é expulso da sala. Ao sair, tem ainda a suprema audácia de
corrigir o mestre: “O senhor perguntou quantos rins ‘nós’ temos. Nós temos
quatro: dois meus e dois seus. Posso não saber medicina, mas sei português. O
senhor trate de fazer perguntas corretas”.
Oratória. Do latim oratoria, submetendo-se ars oratoria,
arte oratória. Orare em latim tem o significado de falar. Com
o advento do cristianismo, ganhou também o sentido de rezar. Tanto que no
português entra primeiro o oratório, ainda no século XIV, designando o
compartimento da casa reservado às orações ou um simples nicho, em forma de
capelinha portátil onde é entronizado o santo de devoção do proprietário e da
vizinhança. No século XV, surge oratória para designar a habilidade de dizer
bem as coisas, a eloquência, a retórica. Eram ainda tempos de um saber
enciclopédico em que se destacavam as sete artes liberais, divididas em dois
blocos, chamados quadrivium e trivium. O quadrívio
era constituído pela música, a aritmética, a geometria e astronomia. E o trívio
pela gramatica, a retórica e a dialética. Naqueles tempos, falar e escrever bem
eram ofícios que demandavam cuidados de botânica e de jardinagem das palavras,
pois acreditava-se que beleza e verdade andassem de mãos dadas. Assim um bom
juízo sobre determinado tema somente era bem aceito quando proferido com os
ornamentos expressados pelas normas da oratória e da retórica.
Orçamento: do italiano orzare, o vocábulo teve origens na linguagem
marítima. Orçar era procurar o vento favorável, vindo daí o seu sentido de
estimativa, do cálculo aproximado.
Orgulho: do frâncico urguli, excelência, pelo catalão orgull e
daí ao espanhol orgullo, orgulho, altivez, brio. Na tradição
portuguesa a vaidade de ser nobre estava em não trabalhar, especialmente não
cultivar a terra. Com o advento da modernidade, o trabalho passou a ser orgulho
de todos, nobres e plebeus. O dia do trabalho, comemorado a primeiro de maio, é
exemplo do orgulho que têm os que exercem algum ofício. Ainda que haja
diferenças entre orgulho e vaidade, Sacha Guitry escreveu em Até Nova
Ordem que "a vaidade é o orgulho dos outros".
Ostracismo. Do grego ostrakismos, pelo latim ostracismu,
ostracismo, desterro. Na Grécia antiga, principalmente em Atenas, era imposto,
em plebiscito, exílio temporário a alguns cidadãos. A exclusão era simbolizada
pela distribuição de conchas de ostras aos banidos.
Palestra: do grego palaístra, lugar onde eram realizados os
exercícios físicos, as lutas corporais, as instruções verbais para as lutas e
os embates de ideias. Por isso, o vocábulo manteve o sentido guerreiro que
preside uma palestra, onde ideias podem lutar, vencer e ser vencidas.
Patropi: palavra formada a partir das primeiras sílabas da expressão
"país tropical", designando o Brasil. Os dicionários ainda não a
registraram por defasados. Passou a ser escrita em 1970, como se pode comprovar
com textos da imprensa do período.
Pechincha. De origem desconhecida. Provavelmente teria vindo de uma variação da
pronúncia de 'pequena', que nos Açores soa como pitchencha. Tanto
em Portugal como no Brasil tem sido palavra indispensável nas negociações da
economia popular, pois foi sempre o recurso mais usado pelo freguês para
conseguir um preço melhor em suas compras.
Plugar: do inglês to plug, ligar. É mais uma das contribuições da
informática para a língua portuguesa. Plugados a redes mundiais, os leitores
podem ter acesso a informações disponíveis em mais de duas mil bibliotecas.
Também aqui houve inversão no tráfego. Em vez de o leitor ir a uma biblioteca
de sua cidade, pode trazer milhares de bibliotecas de todo o mundo para dentro
de sua casa com um simples toque no teclado de seu computador.
Presídio: da latim praesidiu, praça militar, fortificação. Passou a
designar as prisões depois que alguns condenados perigosos foram enviados para
esses lugares. Hoje é mais comumente entendido como sinônimo de cadeia. Quando
muito fortificado, acrescente-se a expressão "de segurança máxima".
Proferir: do latim proferre, proferir, isto é, levar para fora da
boca, já que o latim ferre tem o significado de levar,
designando assim o ato de falar, ainda que seu uso seja mais adquirido em
situações de certa cerimônia.
Professor: do latim professore, professor, que professa. Seu sentido
primitivo em designar aquele que fazia declarações públicas, especialmente
religiosas. Passou depois a sinônimo de mestre. Houve mistura de significados
porque os primeiros professores da era cristã exerceram o seu ofício na
sacristia ou em dependências eclesiásticas. Antigamente os professores deviam
ser castos. O teólogo e filósofo francês Pierre Abélard, dito Abelardo,
transgrediu tal norma, namorando e casando-se com uma aluna Heloísa, 21 anos
mais jovem do que ele. Irritado, o tio da moça, alta autoridade eclesiástica,
mandou castrá-lo. Por fim, os dois se separaram e abraçaram a vida religiosa,
cada qual num convento. Dia 15 de outubro é celebrado o Dia do Professor. O
país que mais respeita a figura do professor é o Japão. Lá o imperador, que não
se inclina diante de ninguém, inclina-se diante de professores e
professoras.
Prontuário. Do latim promptuarium, lugar onde estão as coisas prontas,
que podem ser encontradas a qualquer momento, prontamente. Deriva de promptu,
pronto, disponível. Passou a designar registros de arquivos à disposição para
consultas imediatas. Nas Delegacias de Polícia, é mais conhecido por
capivara.
Pseudônimo: do grego pseudonymos, nome falso. Por norma, o nome
verdadeiro do autor é aquele que aparece na capa do livro de sua autoria. Mas
alguns escritores utilizam pseudônimos para ocultar suas verdadeiras
identidades. Um dos escritores mais lidos do Brasil, Marcos Rey, que teve
vários de seus livros transpostos para o cinema e a televisão, chama-se Edmundo
Nonato. Também o jornalista Sérgio Porto tornou-se célebre sob o pseudônimo de
Stanislaw Ponte Preta, publicando os seus famosos FEBEAPÁS, Festivais
de Besteiras que Assolam o País. O livro Alice no País das
Maravilhas, clássico da literatura infantil, foi escrito pelo professor e
matemático inglês Charles Lutwidge Dodgson, sob o pseudônimo de Lewis
Carroll.
Reparar: do latim reparare, consertar, arrumar. Em latim parare tinha
também o significado de igualar. Como nos trabalhos de conserto era fundamental
a boa observação, reparar ganhou no português o sentido de olhar com muita
atenção, fixando a vista. Mas reparar tem também o significado de indenizar e é
verbo muito frequente em tempos de após-guerra, quando se trata de exigir compensações
pelos danos havidos, invariavelmente definidas pelos vencedores. Por isso, o
general gaulês Breno pós a própria espada num dos lados da balança, quando
exigia ouro dos romanos, e diante das reclamações latinas berrou: "Vae
victis! (Ai dos vencidos!)".
Suicídio. Do francês suicide, por analogia com homicídio, do
latim homicidium, pela formação sui e cidium,
de caedere, matar a si mesmo. São muitos os apressados deste mundo
que, inconformados com a demora do fim, buscam abreviá-lo, nem sempre com sucesso.
Às vezes, é a cultura que sugere o suicídio como gesto que põe fim a problemas
para os quais a solução é a morte, como foi o caso da Antiga Roma, repleta de
suicidas, e o Japão, que ainda cultiva o suicídio como ultimo gesto de
dignidade possível frente a dificuldades tidas como resolvidas apenas com a
morte auto-imposta. Países que reprovam o suicídio, entretanto, abrigam
suicidas em grande número, como é o caso da Suíça e da Hungria. A depressão
costuma ser componente decisivo dos suicidas, mas há alguns casos célebres em
que estiveram em jogo outras questões, como foi o caso do duplo suicídio de
Adolfo Hitler e Eva Braun, em 30 de abril de 1945. O corpo do famigerado foi
queimado para não ser localizado pelas forças soviéticas que tinham tomado Berlim.
Alguns suicidas são falsos, como se descobre depois. Em 1975, a morte do
jornalista Vladimir Herzog num dos muitos porões da ditadura, em São Paulo, foi
dada como suicídio, mas a verdade prevaleceu, ficando provado que ele morreu
sob tortura.
Tiradentes: do verbo tirar, de tira, vocábulo de origem obscura, mas provavelmente
da raiz iraniana, tir, agudo, penetrante, presente na designação da
flecha dos arqueiro partos, tradicionais inimigos dos romanos. Ao entrar no
corpo, a flecha subtrai algo, a começar pela pele e pedaços de carne. E do
latim dente, declinação de dens, dente. Nos primórdios,
dentista era o que tirava dente, aquele que aliviava a dor de dente. Joaquim
José da Silva Xavier (1746-1792), era assim chamado por exercer o ofício de
dentista. Além disso, era oficial, com o posto de alferes — do árabe al
fares, cavaleiro — de um regimento militar encarregado de combater
assassinos e bandidos. Integrou o movimento político que, inspirado na
independência dos EUA, queria proclamar a nossa. Em 1789 estava no Rio de
Janeiro quando o coronel Joaquim Silvério dos Reis delatou todo o grupo em
troca de perdão de impostos, a derrama, que serviria de estopim para o
movimento. Tiradentes escondeu-se numa casa da Rua dos Latroeiros, hoje
Gonçalves Dias, onde foi preso. O processo durou três anos e culminou com sua
execução na forca, no Largo de Lampadosa, no Rio
Transe. Derivado de transir, do latim transire, ir além de,
trespassar, quase morrer. Semelhante ao êxtase, o transe consiste numa espécie
de viagem da alma para além do corpo. O transe mediúnico é acolhido no
espiritismo como diálogo entre os espíritos encarnados, que ainda estão nos
corpos que habitam, e os desencarnados, que vagam pelo espaço sideral depois da
morte dos corpos que habitavam.
Transparente. Do latim trans, através, e parere, aparecer,
isto é, que deixa aparecer algo através do que o oculta em parte. É o caso de
um vestido transparente e da proclamada transparência da administração pública,
presente sempre nos discursos políticos.
Trapaça. De trapa, do latim trappa, armadilha, acrescido do sufixo
"aça", indicador de aumentativo.
Zorra: do espanhol zorra, raposa. No português passou a denominar
carro muito baixo, de quatro rodas, para transportar cargas pesadas. Como
sinônimo de bagunça, é provável que tenha se originado no espalhafato que fazem
aves reclusas quando a raposa entra no galinheiro. Em nossa língua, sinônimo de
confusão.
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