19 dezembro 2024

Seis Sinais sobre os Grandes Livros

Partamos da seguinte tese: sempre houve mais livros do que leitores. Isso significa dizer que, como leitores, leremos poucos livros de todos os que foram escritos, e entre esses poucos devem incluir os melhores.

O que devemos fazer? Optarmos por ler bem alguns livros do que ler mal muitos. A questão é ler bem. Saibamos, também, que catalogar os grandes livros é tão velho quanto ler e escrever. Se consultarmos a Autobiografia de John Stuart Mill, teremos boas informações a respeito.

Seis sinais que todos usam ao fazer listas ou relação

1) Os grandes livros são os mais lidos. Durante um ou dois anos. Mas seu sucesso é durável.

2) Os grandes livros são populares e não pedantes. Não foram escritos por especialistas sobre especialidades.

3) Os grandes livros são sempre contemporâneos. Os grande livros nunca passam da moda, com a mudança do pensamento ou os ventos variáveis de doutrinas e opiniões.

4) Os grandes livros são os mais legíveis visto que as regras do boa leitura se relacionam com as regras da boa escrita.

5) Os grande livros são os que mais instruem, os que mais ilustram. Significa dizer que eles contêm coisas originais que não têm em outros livros.

6) Os grande livros tratam dos problemas permanentemente insolúveis da vida humana.

Notas do Capítulo XVI — "O Grandes Livros", do livro A Arte de Ler, de Mortimer J. Adler.

05 dezembro 2024

Ler e Replicar

Replicar. Responder a objeções, contestar, refutar. Em se tratando da leitura, é a postura do leitor com relação ao autor de um livro.

Numa leitura interpretativa, temos: 1) concordar com o autor, pela interpretação de suas palavras básicas; 2) apreender as principais proposições do autor, descobrindo suas sentenças importantes; 3) conhecer os argumentos do autor, achando-os ou construindo-os, na sequência das frases; 4) determinar que problemas o autor resolveu e que problemas não resolveu, e ver à que ponto ele reconhece isso.

Ler um livro é como conversar. A conversa entre um livro e seu leitor devia ser metódica, cada parte falando por sua vez sem interrupções. Se, no entanto, o leitor for indisciplinado e impolido, é tudo, menos metódico. 

O proveito de uma boa conversa é aprender alguma coisa. Nesse caso, o leitor tem o dever e o direito de replicar. Se o livro é, dos que transmitem conhecimentos, a finalidade do autor é instruir. Ele procurou ensinar? Procurou convencer ou persuadir seu leitor de alguma coisa? Mesmo que o leitor esteja convencido do aprendizado, deve, ainda, completar pelo trabalho da crítica, pelo trabalho de julgar, pois há uma tendência em pensar que um bom livro está acima da crítica do leitor médio. Temos de nos tornar iguais ao autor.

Estamos esquecendo que a palavra “dócil” se prende à raiz latina que significa ensinar ou aprender. O leitor mais dócil é, portanto, o mais crítico.

Retórica é comunicação entre os homens. Qual o propósito da comunicação? É o desejo de convencer e persuadir. Assim sendo, devemos convencer a respeito de assuntos teóricos e persuadir a respeito de assuntos que afetam a ação ou sentimento.

Não se deve começar a réplica antes de ter ouvido, cuidadosamente, e de ter compreendido. Concordar, sem compreender, é vão. Discordar, sem compreender, é desonesto.

Notas do Capítulo XII — "A Arte de Replicar", do livro A Arte de Ler, de Mortimer J. Adler.