21 julho 2023

A Disputa pela nossa Atenção

“A abundância de informações produz escassez de atenção.”

Tese: “Alguma coisa profunda e potencialmente irreversível parece estar acontecendo com a atenção humana na era da informação”. A missão: “Encontrar uma resposta para esse problema talvez seja o maior desafio moral e político do nosso tempo”.

Na antiguidade a informação era escassa. As pessoas obtinham informações de seus ancestrais, de pensadores, de religiosos que, em praça pública, estimulavam o pensamento de seus ouvintes. Sócrates é um exemplo clássico, pois com sua maiêutica procurava mostrar que as pessoas que sabiam não sabiam tanto assim. 

Presentemente, somos bombardeados por uma quantidade enorme de informações vindas das redes sociais, dos jornais, da Internet, etc. São vídeos curtos, pensamentos expressos em poucos caracteres, todos querendo disputar a nossa atenção. Muitas vezes usam palavras de efeito para que estimular a nossa visita àquela página. 

James Williams, um ex-programador do Google, insatisfeito com os rumos de seu trabalho, que era o de programar cliques, engajamentos dos usuários, abandona o seu emprego e muda-se para as montanhas, a fim de se dedicar a outros projetos. E nesse novo modo de vida, escreve o livro "Liberdade e Resistência na Economia da Atenção", e foi ganhador do Prêmio Nine Dots, cuja competição foi  julgada anonimamente

No livro, Williams descreve como se sentiu enquanto ainda trabalhava para a indústria de tecnologia: “Logo percebi que a causa para a qual eu havia sido recrutado nada tinha a ver com organizar informações, mas com atenção”.

O economista Herbert Simon, na década de 1970 dizia que quando a informação se torna abundante, a atenção é que passa a ser o recurso escasso: "Em um mundo rico em informações, essa fartura significa falta de outra coisa: uma escassez do que quer que seja que a informação consome. O que a informação consome é bastante óbvio: ela consome a atenção de seus destinatários. Portanto, a fartura de informações cria déficit de atenção e uma necessidade de alocar essa atenção de forma eficiente em meio à superabundância de fontes de informação que possam consumi-la". 

James Williams diz-nos, em seu livro, que há bilhões de dólares sendo gastos para descobrir como fazer você olhar uma coisa em vez de olhar para outra; comprar uma coisa em vez de outra; se preocupar com uma coisa e não com outra. Essa é literalmente a meta de programação de muitas das tecnologias nas quais confiamos para guiar nossas vidas todos os dias.

Em vista do exposto, cabe-nos treinar o nosso cérebro para que ele atue de modo ativo, ou seja, com foco, com objetivos definidos. Se não fizermos esse esforço, seremos guiados por todos aqueles que estão prendendo a nossa atenção. 

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Frases e Notas Extraídas do Livro

“Conseguir enxergar o que está bem adiante do nariz é uma luta constante.” Orwell

“Aquele destinado a ser grande precisa ser capaz de impor limites a si próprio.” Goethe

Em seu ensaio “Refletions on Progress”, Aldoux Huxley escreve: “Por mais aparentemente poderosa e bem treinada a determinação, ela não será páreo para as circunstâncias.” 

“Os impérios do futuro serão os impérios da mente.” Churchill

“Moldamos nossos prédios para que, depois, eles nos moldem.” Churchill

“Por que nos ocupamos das coisas com que nos ocupamos?” Harold Innis

“Ser movido apenas por nossos apetites é escravidão.” Rousseau

Conforme observou Jeff Hammerbacher, o primeiro cientista de dados do Facebook: “As melhores mentes da minha geração estão se dedicando a pensar como fazer as pessoas clicarem em anúncios... e isso é péssimo”.  

Gordon Pask certa vez definiu a cibernética como a arte e a ciência de manipular metáforas defensáveis”. 

Na verdade, “cibernéticae governotêm a mesma raiz grega: kyber — “conduzir ou guiar”, usado originalmente no contexto da navegação. (Essa metáfora náutica fornece uma ilustração interessante do que quero dizer: é incoerente a ideia de um leme neutro”. Certamente que, mantido imóvel, ele pode ajudar a seguir firme no mesmo rumo mas isso é diferente de guiar o navio para algum destino. O mesmo acontece com qualquer que seja a tecnologia.) 

Dispêndio de atenção deve ser visto como se pagássemos um “imposto atencional”. Quanto nos custa prestar atenção? E quem ganha com isso?

O fabricante de fones de ouvido Bose vende, atualmente, um produto chamado Hearphones, que permite ao usuário bloquear todos os sons do ambiente exceto aqueles emitidos pela fonte desejada torna possível se concentrar em apenas uma conversa de uma sala barulhenta, por exemplo. O site do produto diz: “Você vai manter a atenção nas vozes que deseja ouvir e filtrar os ruídos que não deseja para escutar confortavelmente cada palavra. Ouvir agora só depende de você”.   O slogan também poderia ser lido como uma descrição adequada dos novos desafios da Era da Atenção como um todo.

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Títulos mais compartilhados do Facebook baseiam-se no apelo emocional: “estão pirando”, “fazer você chorar”, “chocado de ver”. Muitos deles apelam a um sentimento de pertencimento tribal. “X coisas que só membros de algum grupo vão entender"

O grau de distração é o equivalente mental da obesidade

Curtir tinha um sentido de positividade. Logo a função “like” passou aos interesses dos anúncios. 

A profecia de Huxley, Postman escreve, tinha por base sua previsão de que os piores adversários da liberdade no futuro emergiriam não das coisas que tememos, mas daquelas que nos dão prazer: não é a perspectiva da marca de uma botina na cara para sempreque deveria nos fazer perder o sono, mas o fantasma de uma situação na qual as pessoas vão amar a própria opressão, vão adorar as tecnologias que as privam da capacidade de pensar”. Um polegar rolando a tela, para sempre

 

 


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