10 julho 2022

O Esforço Intelectual

Entre o fato e a ideia. Mas em que consiste o esforço intelectual? Passar de um plano de ideias para um outro plano. Pensemos no seguinte: é o fato iluminado por uma ideia; ou seja, a ideia encarnada no fato. O fato deve ser transportado a uma lei geral. E do mesmo modo, uma lei pura e abstrata não é concebível: a lei deve sintetizar uma multidão de fatos. Por isso, a capacidade de adaptação, que é a habilidade do espírito.

Dizia Foch, na Escola de Guerra: “Ponhamos de lado esses esquemas automáticos, retenhamos princípios gerais, depois apliquemos esses mesmos princípios ao caso novo e inédito, colocando-nos, sem cessar, o problema da finalidade, problema que o cérebro tanto despreza”. O mesmo deve ser aplicado aos trabalhos do intelecto.

Quando nos pomos a escrever, tudo se nos parece obscuro, pois estamos diante de uma ideia global. Em seguida, as primeiras palavras do orador ou do escritor constroem uma espécie de andaime para o que virá depois. Por isso, muitos se surpreendem com o poder de rascunhar as suas ideias, mesmo nas horas contadas de um exame.

Dai-me uma alavanca!”. Onde encontrar o ponto de aplicação? “Dai-me uma alavanca!”, dizia Arquimedes. “Dai-me, sobretudo, um ponto de apoio para nele aplicar a alavanca, e ela funcionará”. O erro está em procurar demasiado; eliminemos, simplifiquemos, substituamos as incógnitas por símbolos; façamos como se o problema estivesse resolvido. Repitamos esta regra natural: ir, em tudo, do conhecido para o desconhecido.

As fronteiras, passagens, analogias. O instinto do gênio consiste em reparar nas coisas singulares que contêm em si o universal em potência e que são suscetíveis de dar-nos, graças ao acréscimo da analogia, muitos outros conhecimentos. Cavamos no lugar onde estamos até que encontremos a galeria escavada pelo nosso vizinho e percebamos então a convergência de todos esses esforços.

Para distinguir o conhecimento profundo do superficial, fez uso da circunferência e um ponto a dentro dela. Se a pessoa rodar o a em círculo, terá um conhecimento enciclopédico, mas não o aprofundamento do saber. Vamos dar a esse ponto a um pouco de intuição e aplicação; dotemo-lo de uma potência de esforço e perseverança. Ele escolherá um ponto da circunferência e apontará para o centro da mesma. Essa é a imagem das duas espécies de saber, das quais uma, a da tentação, dispersa-nos à superfície, numa agitação sem fim, arranca-nos de nós próprios e do ser, convencendo-nos de que tudo difere de tudo; e a outra, pelo contrário, reconduz-nos ao centro e demonstra-nos, com encanto, a semelhança que liga as partes da experiência.

Fonte de Consulta

GUITTON, Jean. O Trabalho Intelectual: Conselhos para os que Estudam e para os que Escrevem. Tradução de Lucas Félix de Oliveira Santana. Copyright 1951. São Paulo, Campinas: Kibion, 2018.

 

 

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