15 abril 2011

Persuasão na Religião

 "Enquanto a retórica profana está sujeita às críticas e às contradições, a retórica religiosa sofre a 'ilusão da reversibilidade'”.

Na retórica convencional, um orador expõe o seu tema, defende a sua tese, analisa os prós e os contras de um determinado assunto. Depois de proferida a sua peça oratória, segue-se o debate, a troca de informações. Em linguagem técnica, diz-se que há uma reversão do processo comunicativo, ou seja, emissor e receptores interagem. Caso os argumentos não tenham sido convincentes, há reprovação, negação e reprimenda por parte dos ouvintes.

Na retórica religiosa, o orador não fala de si ou por si, mas como intermediário de Deus. Pergunta-se: o público vai contestar Deus? Não vai. A princípio, o ouvinte poderia contestar o padre, o pastor ou o rabino. É aqui que entra a “ilusão da reversibilidade”. Dá-se a impressão que ele está contestando, mas no fundo o que há é uma aceitação, pois os padres e os pastores falam em nome de Deus; eles são intermediários do Altíssimo.

Adilson Citelli, em Linguagem e Persuasão, cita alguns mecanismos que acentuam a persuasão no discurso religioso:

Uso do modo imperativo o que revela a ideia de coisa pronta, acabada;

O vocativo subjacente que afirma o chamamento ao sujeito. Como exemplo, o Credo católico;

A função emotiva (afinal eu devo acreditar, ter fé; o problema da salvação está comigo, o Senhor é o exemplo a ser seguido);

O uso de metáforas que acentuam o ciframento do discurso religioso: a mansão dos mortos e o ressuscitamento de todos só criam um jogo simbólico acerca do inusitado do dogma;

Uso intenso de parábolas e de paráfrase; de um lado, a evolução alegórica, e, de outro, a presença do texto simbólico;

Uso de estereótipos e chavões que possuem a força daquilo que Umberto Eco chama de sintagmas cristalizados: “Oh! Senhor”, “todo-poderoso”, “criador”, “nosso Senhor”. (1)

Fonte de Consulta 

(1) CITELLI, Adilson. Linguagem e Persuasão. 16.ed., São Paulo: Ática, 2007.


 

 

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