"Enquanto a retórica profana está sujeita às críticas e às contradições, a retórica religiosa sofre a 'ilusão da reversibilidade'”.
Na retórica convencional, um orador expõe o seu
tema, defende a sua tese, analisa os prós e os contras de um determinado
assunto. Depois de proferida a sua peça oratória, segue-se o debate, a troca de
informações. Em linguagem técnica, diz-se que há uma reversão do processo
comunicativo, ou seja, emissor e receptores interagem. Caso os argumentos não
tenham sido convincentes, há reprovação, negação e reprimenda por parte dos
ouvintes.
Na retórica religiosa, o orador não fala de si ou
por si, mas como intermediário de Deus. Pergunta-se: o público vai contestar
Deus? Não vai. A princípio, o ouvinte poderia contestar o padre, o pastor ou o
rabino. É aqui que entra a “ilusão da reversibilidade”. Dá-se a impressão que
ele está contestando, mas no fundo o que há é uma aceitação, pois os padres e
os pastores falam em nome de Deus; eles são intermediários do Altíssimo.
Adilson Citelli, em Linguagem e Persuasão,
cita alguns mecanismos que acentuam a persuasão no discurso religioso:
Uso do modo imperativo o que revela a ideia de
coisa pronta, acabada;
O vocativo subjacente que afirma o chamamento ao
sujeito. Como exemplo, o Credo católico;
A função emotiva (afinal eu devo acreditar, ter fé;
o problema da salvação está comigo, o Senhor é o exemplo a ser seguido);
O uso de metáforas que acentuam o ciframento do
discurso religioso: a mansão dos mortos e o ressuscitamento de todos só criam
um jogo simbólico acerca do inusitado do dogma;
Uso intenso de parábolas e de paráfrase; de um
lado, a evolução alegórica, e, de outro, a presença do texto simbólico;
Uso de estereótipos e chavões que possuem a força
daquilo que Umberto Eco chama de sintagmas cristalizados: “Oh! Senhor”,
“todo-poderoso”, “criador”, “nosso Senhor”. (1)
Fonte de Consulta
(1) CITELLI, Adilson. Linguagem e Persuasão. 16.ed., São Paulo: Ática, 2007.
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