No capítulo I “Qualidades Intrínsecas do Orador”, do livro A Arte de falar em Público, de Silveira Bueno,
há referência ao adágio latino poeta
nascitur et orator fit (O poeta nasce e o orador se faz), entendendo-se que,
além de seus dotes naturais, o orador deve trabalhar intensamente para
aperfeiçoá-los. Os dotes naturais são como os diamantes brutos que deverão ser
polidos e lapidados.
Os dotes naturais podem ser vistos sob dois aspectos: 1) dotes internos: talento, memória, imaginação
e inspiração, que pertencem à inteligência; sensibilidade e emoção, que
pertencem à vontade; 2) dotes externos:
aparência agradável e voz perfeita.
De acordo com Labruyère, o orador está diante do auditório como
um réu diante do juiz. Será sempre motivo de crítica e de elogio. A crítica devastadora não deve impedi-lo de continuar na busca de seu objetivo maior, ou seja, convencer e comover os seus ouvintes. É do seu talento que depende o menor dos seus gestos, o
registro da voz, a maneira imediata de aparecer perante o público.
Para que esses dotes sejam expressivos, todos os oradores
devem disciplinar a inteligência e a memória por meio de esquemas. Os esquemas põem-nos
claro diante dos olhos o plano que temos a seguir. Mostram-nos, como num mapa,
o caminho a percorrer. São os guias dos quais não nos é permitido afastar-nos
sem incorreremos no perigo de um desastre.
O orador não deve confiar demasiadamente na memória, pois
ela pode pregar uma peça. Nesse sentido, os bons mestres da oratória advertem-nos que
devemos repetir mentalmente o discurso tantas vezes quantas forem necessárias, até que ele se aclimate em nosso âmago. Acrescente-se a isso, o bom uso da imaginação e da inspiração, que são uma espécie de
contato com os mundo invisível.
Como o fim mais comum da oratória é comover, captar a simpatia do auditório é tudo. A aparência agradável
é como que uma autoridade sobre os ouvintes. Aliam-se a isso, a voz perfeita, a
respiração correta e a boa dicção.