Na antiguidade, a
memória era bastante valorizada; muitas informações só eram obtidas quando
repassadas por seus detentores. Na Grécia, berço da civilização ocidental,
praticava-se a oratória, onde a memória tinha grande peso. Num tempo não
muito distante, ela é ainda acionada, principalmente pelos religiosos, que
transmitem de viva voz trechos da Bíblia, sentenças de Jesus
e máximas dos grandes pensadores da humanidade.
O surgimento do
Google parece que resolveu o problema da memória: tudo o que precisamos fica guardado
no estoque mundial de informações (www). Basta digitarmos uma palavra ou
fazermos uma pergunta e o Google nos dá, em poucos segundos, a resposta. Para
que isso seja possível, o Google aciona entre 700 e mil computadores de seu
banco de dados, cujas informações estão indexadas.
A facilidade e a
gratuidade de uma resposta dão a sensação de algo positivo. Temos a impressão
que a coisa é boa e enaltecemos a onipotência desta empresa. A verdade, porém,
é que "não existe almoço grátis"; tudo tem o seu preço. O preço que o
Google cobra é nossa atenção aos anúncios veiculados. A resposta rápida e
fácil, além de ser superficial, deixa o usuário preguiçoso: os textos têm que
ser curtos.
O Google não está
interessado no aprendizado do usuário: seu objetivo é dar respostas fáceis e
rápidas. Uma observação: onde o Google entra
ele destrói ou desarticula o mercado. Desde 2006, o Google vem
insistindo em tornar o Gmail exclusivo e vitalício em diversas universidades.
Caso isso se concretize, desbancará a Microsoft e o Yahoo. Há que se tomar
cuidado com as garras do Google, que se ampliam cada vez mais.
Em vista do exposto,
Siva Vaidhyanathan, autor de A Googlelização de Tudo: E Por que
Devemos nos Preocupar, propõe-nos o Projeto do Conhecimento Humano,
"que identificaria uma série de desafios políticos, necessidades
infraestruturais, lampejos filosóficos e desafios tecnológicos com um
único objetivo em mente: organizar a informação mundial e torná-la universalmente acessível".
Tenhamos cuidado com
as coisas fáceis. Os antigos já nos diziam que a sabedoria está nas
dificuldades vencidas e não numa resposta automática e superficial.