“A destruição dos falsos conhecimentos não acontece
sem sofrimento.”
Debater não é combater. Debater é trocar ideias, palavras,
argumentos. Na antiguidade grega, o nascimento do debate coincidia com o
nascimento do logos. Argumentar é reconhecer a legitimidade de uma
outra argumentação. Para tanto, devemos ter mente o que se pode refutar e o que
não se refuta. O debate exige certas regras de comportamento. Não podemos falar
a esmo, sem nexo, sem demonstração do que estamos expondo.
O que não se refuta? 1) Não se refuta o vago,
ou seja, não se refuta frases relativistas, tais como: “há gosto para tudo”,
“tudo tem um lado bom e um lado ruim”. 2) Não se refuta uma demonstração,
ou seja, quando o cálculo e a experiência podem decidir, a discussão é inútil.
3) Não se refuta uma filosofia, ou seja, o emprego dos mesmos
termos não garante a identidade. Há necessidade de verificar não só o texto,
mas o contexto em que cada autor está trabalhando.
Refutar não é polemizar. Enquanto a polêmica leva-nos ao
combate, a refutação leva-nos ao raciocínio, à elaboração de
argumentos racionais. Polemizar é a ideia de um combate entre inimigos em que
alguém tem que sair vencedor. Enquanto a polêmica opõe pessoas, a refutação diz
respeito a ideias.
Em se tratando da refutação, há a refutação
sofística e a refutação filosófica. A refutação sofística
procura armar ciladas para vencer o adversário. Faz uso, inclusive, de
argumentos ilícitos. Conforme nos ensina Hegel, em sua dialética, a refutação
filosófica não é um aniquilamento, mas uma contraposição de teses, em que o
negativo se torna positivo, na medida em que nos permite ir mais adiante. Nesse
caso, a verdadeira refutação leva-nos a uma purificação do saber, purificação
esta que nos liberta dos falsos saberes.
Não nos esqueçamos de que a linguagem filosófica
deve ser submetida à exigência da verdade. Empenhemo-nos, assim, em convencer o
auditório através de argumentos racionais em vez de persuadi-lo por meios
irracionais.
Fonte de Consulta
RAFFIN,
Françoise. Pequena Introdução à Filosofia. Tradução de Constância
Morel e Ana Flaksman. Rio de Janeiro: FGV, 2009. (Coleção FGV de bolso. Série
Filosofia)