Eloquência é
uma palavra que perdeu o seu sentido original. Muitos falam dela de modo
pejorativo. Há, porém, boas razões para vê-la dentro de um contexto mais amplo,
em que se privilegiam o convencimento e a persuasão daqueles que falam em
público. Isto porque, todo o orador, quando fala, quer ser ouvido. Caso
contrário, para que falar em público?
Na antiguidade clássica grega a palavra falada era
muito exaltada. Os gestos, as posturas, a teatralização e as demais formas de
se expressar nada mais eram do que modos diferentes de atrair o público.
Naquela época havia um grande prazer em assistir a uma peça oratória, porque
esta era a única forma de transmitir conhecimentos. Os livros e a gama enorme
dos meios de comunicação de massa que temos nos dias que correm, principalmente
os recursos da Internet, eram inexistentes.
Deleitar o espírito dos ouvintes era o principal
fim de todas as orações. Nesse mister, há o exemplo de Demóstenes, o imortal
ateniense, muito citado nos livros e cursos de oratória. Desde o seu
nascimento, fora tolhido por graves deficiências, inclusive a gaguez. Como
tinha a ambição de transmitir aos outros os seus pontos de vista, andava na
praia com pedrinhas na boca, no sentido de melhorar a nitidez de sua voz. O seu
esforço foi tanto que não demorou muito tempo para se tornar o maior orador de
todos os tempos.
Observe o que alguns pensadores disseram sobre o
tema: para Pascal, "A eloquência é a pintura do pensamento"; para E.
Ferri, "A eloquência é o talento de transmitir com força ao
espírito dos outros, o sentimento de que o orador está possuído"; para
Dammien, "A eloquência é a arte de dizer bem aquilo que
é preciso, tudo quanto é preciso, e nada mais do que isso"; para Rui
Barbosa, "A eloquência é a sinceridade na ação".
Ilustremos o tema com uma comparação entre o orador
e o pintor. O pintor, ao dar vazão ao seu sentimento artístico, fá-lo para si
mesmo, para agradar ao seu ego, à sua concepção de arte; o orador, não. Ele tem
que falar para atingir a quem ouve, isto é, à plateia. Pergunta-se: como será
ouvido se não conseguir prender a atenção de quem o escuta? Este deve ser o
grande exercício do orador: agradar aos olhos e aos ouvidos do público. Para
tal finalidade, precisa de persuasão e de eloquência.
A eloquência não é falar fácil e corretamente,
impressionar os sentidos alheios, mas expressar o pensamento próprio, com
graça, equilíbrio, harmonia e muita perspicácia de tempo e lugar.